O que se sabe (e o que está por saber) sobre a nova variante que preocupa os especialistas
A grande preocupação em torno da nova variante sul-africana da covid-19, batizada de Omicron, é o elevado número de mutações, que pode ajudar o vírus a contornar as defesas do corpo. Portugal acompanha o caso "com muita preocupação".
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A nova variante do Sars-CoV-2 identificada na África do Sul, o país africano mais afetado pela pandemia (com 2,9 milhões de casos e mais de 89.600 mortes), é a variação do vírus com mais mutações detetadas até agora, razão pela qual está a gerar especiais preocupações entre a comunidade científica. Embora a característica de extrema mutabilidade não represente automaticamente, por si só, um cenário trágico, é importante perceber os efeitos que as mutações podem implicar, disse a Organização Mundial da Saúde (OMS), alertada na quarta-feira para a existência da nova variante.
Para já, nesta fase ainda inicial, há mais perguntas do que respostas, não existindo certezas sobre, por exemplo, quão rapidamente a nova variante se propaga ou sobre qual a sua resistência à proteção dada pelas vacinas - que é uma das grandes preocupações partilhadas pelos especialistas internacionais, tendo em conta a diferença radical entre a nova variante e a original, identificada em Wuhan, na China, em finais de 2019.
Sobre a variante B.1.1.529 sabe-se que tem uma "constelação incomum de mutações", apresentando-se "muito diferente" de outras variantes que surgiram. "Esta surpreendeu-nos, deu um grande salto na evolução e com muitas mais mutações do que esperávamos", fez saber o diretor do Centro para Resposta a Epidemias e Inovação da África do Sul, Tulio de Oliveira, numa conferência de imprensa, detalhando terem sido detetadas 50 mutações no total e mais de 30 na proteína spike, que é o alvo da maioria das vacinas existentes e a chave que o vírus usa para abrir a porta de entrada para as células humanas.
Onde já foi detetada e como pode ser rastreada?
A variante já chegou, pelo menos, a quatro países. Os casos estão maioritariamente concentrados numa província da África do Sul, onde foi inicialmente identificada mas foram reportados um pouco por todo o país (foi detetada em 77 amostras recolhidas entre 12 e 20 de novembro). O ministro da Saúde sul-africano, Joe Phaahla, atribuiu à variante a responsabilidade pelo aumento "exponencial" das infeções nas últimas semanas e insistiu que, mesmo tendo sido detetada na África do Sul, não significa que seja originária daí.
Também foram detetados quatro casos de infeção no vizinho Botsuana e um em Hong Kong. E, já esta manhã, o ministério da Saúde israelita deu conta de um caso no país.
"Uma boa notícia" é que a variante pode ser detetada por um teste PCR específico, o que significa que pode ser identificada rapidamente, ajudando os cientistas a rastrear a disseminação.
Pode ser mais perigosa que a variante Delta?
A variante Delta, detetada pela primeira vez na Índia, provou ser mais contagiosa do que as anteriores e hoje é a dominante no mundo. Propaga-se facilmente porque a proteína spike tem maior capacidade de entrar nas células humanas.
Ainda não há dados para saber se a nova variante se propaga com maior ou menor rapidez, mas é certo que a B.1.1.529 tem "muito mais mutações e mutações que estão associadas a uma maior transmissibilidade e resistência imunológica", segundo a diretora da Unidade de Pesquisa Operacional Clínica da Universidade de Londres, Christina Pagel.
Que medidas estão a ser tomadas?
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Perante os receios sobre uma eventual propagação descontrolada do vírus e o ainda desconhecimento em torno da variante, vários países estão a ponderar medidas para conter o contágio.
Alemanha, Itália Áustria, Israel, Singapura e Japão já fizeram saber que proibiram ou vão proibir a entrada de viajantes da África Austral. "A última coisa que precisamos agora é da introdução de uma nova variante que poderá causar ainda mais problemas", justificou o ministro da saúde alemão, Jens Spahn, detalhando que a medida vai afetar a África do Sul e "provavelmente países vizinhos". Seguindo a mesma linha, também o Governo britânico disse que ia adicionar seis países africanos à "lista vermelha", proibindo temporariamente os voos.
A Comissão Europeia também anunciou que vai propor a suspensão de voos da África Austral com destino à União Europeia. "A Comissão Europeia proporá, em estreita coordenação com os Estados-membros, ativar o travão de emergência para parar as viagens aéreas da região da África Austral devido à variante de preocupação B.1.1.529", indicou Ursula von der Leyen, no Twitter. Ainda esta sexta-feira, a OMS vai reunir-se para avaliar a gravidade da B.1.1.529.
Portugal acompanha desenvolvimentos
Em Portugal, a ministra da Saúde assegurou que o Governo e as autoridades de saúde estão a acompanhar a situação "com muita preocupação". "Estamos muito atentos à informação que está a ser partilhada pelos especialistas sul-africanos", disse Marta Temido aos jornalistas, esta sexta-feira, depois de uma visita ao Hospital de Coimbra. "Em setembro, o Infarmed já tinha dito que o cenário mais complexo seria o do surgimento de variantes que fujam à vacina. Por isso vamos acompanhar com atenção."