Madre superiora do Mosteiro de São Miguel rejeita a autoridade do patriarcado de Moscovo.
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"Quando a guerra terminar ninguém vai querer ficar sob a orientação do patriarcado de Moscovo. Eles são cúmplices por todas estas mortes e pelo mar de sangue em que a Ucrânia se transformou. Ninguém pode acreditar neles. Vai haver um cisma". A madre superiora do Mosteiro de São Miguel, em Odessa, declara-se em rebeldia, depois de o patriarca Cirilo ter chamado "forças do mal" aos opositores de Vladimir Putin.
Iguminia não hesita na hora de explicar a posição: "Éramos um mosteiro que devia lealdade ao patriarca de Moscovo, mas já não lhe reconhecemos autoridade. Discordamos da forma como a Igreja se posicionou em relação à invasão. Os nossos crentes e as nossas irmãs não compreendem que se defenda isto. A guerra mudou tudo". A madre reconhece que o perdão é um valor da cristandade, mas assegura que não há forma de alguém na Ucrânia concordar com a visão do patriarca de Moscovo: "Não há maneira de esquecer o que está a acontecer", conclui.
Todas as noites, as freiras do Mosteiro de São Miguel, em Odessa, juntam-se em torno da capela e rezam. Nas preces da madre superiora estão os ucranianos e a vitória da Ucrânia. E os russos? "Rezo pelas pessoas que lá estão e que eu conheço."
Há mais de 20 anos que Iguminia lidera esta ordem e nos últimos tempos o número de crentes aumentou, "mas também começamos a receber refugiados", acrescenta. Por entre bolinhos e chá, a madre superiora conta que nasceu em Vladivostok. "Não tenho nem medo, nem vergonha de o dizer. Mesmo durante a Guerra. Gosto de ser sincera, não gosto de mentir às pessoas. A russofobia não faz sentido", refere.
Mais negra do que a roupa que traz vestida é a imagem que traça do líder do Kremlin. "Fiquei feliz com a queda da União Soviética". Nessa altura, já Iguminia era freira há dez anos. "Mas Putin é diferente", continua. "Este tipo de estalinismo já não devia ter lugar na Rússia. Talvez a guerra seja o caminho de Deus para tirar este monstro do poder. Deus já nos mostrou a todos que ele é um diabo".
As mais de 100 freiras deste mosteiro tiveram oportunidade de abandonar o país, mas a madre garante que ainda estão todas na Ucrânia e por lá querem ficar, mesmo que o inferno chegue a Odessa: "É impossível partirmos, este é o nosso lar, é o nosso mosteiro. Se os russos tentarem destruir este local que para nós é sagrado, nós morremos com ele. Mas penso que Deus é mais forte".