Depois de uma campanha envolta em polémica, António Rolo Duarte conseguiu angariar 569 apoiantes e mais de 25 mil euros para pagar o seu doutoramento em História de Portugal na Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
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"Estou agradecido a quem acreditou em mim e a quem se sentiu interessado ou inspirado a participar nesta aventura que eu quero contar", reagiu, ao JN, o estudante de 25 anos.
Como justificação para o lançamento do "crowdfunding" no início de agosto, o investigador alegava que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) tinha adiado "indefinidamente" o concurso, onde é candidato a uma das 1350 bolsas, e que precisava de pagar propinas a 31 de agosto.
Confrontada com a campanha, a FCT rapidamente desmentiu o jovem, uma vez que o regulamento prevê que a divulgação dos resultados provisórios possa acontecer até 3 de setembro. "O único adiamento que ocorreu, e para benefício dos candidatos, foi a prorrogação do período de candidaturas em um mês, que terminou a 28 de abril devido a dificuldades causadas pela pandemia", justificou a entidade, na altura, em respostas enviadas ao JN.
Agora que a campanha terminou, e com 25.061 euros angariados, Rolo Duarte admite que poderia ter repensado alguns argumentos que usou. No entanto, continua a rejeitar que se tenha baseado em premissas falsas. "A minha campanha sempre foi verdadeira e transparente. Se poderia ter sido mais claro em alguns aspetos, talvez. Se andei a enganar alguém, absolutamente que não", afirmou ao JN.
Mesmo debaixo de fogo, o jovem de 25 anos prosseguiu com o "crowdfunding", que chegou a ser suspenso pela plataforma GoGetFunding após várias denúncias.
Garante que vai rejeitar o valor do financiamento coletivo caso lhe seja atribuída uma das 1350 bolsas da FCT (há 3797 candidatos a concurso), cujos resultados definitivos deverão ser conhecidos entre o final de outubro e o início de novembro. "Se eu vier a receber a bolsa obviamente que colocarei o dinheiro todo para devolução. A acontecer, é um processo que terá as suas dinâmicas, mas acho que será possível devolver", sublinhou o também ex-comentador político.
Interrogado sobre se esteve em cima da mesa fazer o doutoramento em Portugal, Rolo Duarte explica: "Eu não digo que não seria possível fazer cá, mas há valor em estudar algo olhando de fora, e principalmente numa das melhores universidades do mundo", disse, recordando que a sua tese incidirá sobre a questão da identidade nacional portuguesa no pós-25 de Abril.
Para o investigador, iniciativas como a que levou a cabo carecem ainda de alguma "validação e aceitação" em Portugal. Ainda assim, assume que houve "alguma inveja, maldade e muita desinformação" à mistura: "Mas também o contrário: pessoas que me contactaram para dizer coisas boas. Algo que eu nunca pensei, por exemplo, foi trabalhar em Publicidade, mas após esta campanha recebi várias mensagens de pessoas a dizer que qualquer empresa me contrataria", disse jocosamente.