
Rui Rio
JOSÉ COELHO/LUSA
Rui Rio demorou a descolar. Gastou as primeiras semanas do mandato com uma sucessão de polémicas despoletadas pelas pessoas que escolheu para núcleo duro do PSD.
No interior do partido, vão-se ouvindo críticas à relação de proximidade que mantém com o Governo e às oportunidades que desperdiça para fazer oposição. Até o CDS, seu parceiro natural, aproveitou esse espaço em branco para se relançar.
Nas últimas semanas, Rio começou a afirmar-se. Criou um Governo-sombra, assinou um acordo histórico com António Costa e na última semana saiu para o terreno, para se inteirar do Serviço Nacional de Saúde que considera ser a parte mais frágil do Estado. Na sexta-feira, em visita ao Hospital S. João, criticou a má gestão do Governo e a falta de autonomia dos hospitais. E denunciou que o serviço de cuidados intermédios pediátricos "está instalado e não funciona, porque as Finanças ainda não autorizaram a contratação de três técnicos.
Este sábado, Rui Rio reúne em Coimbra o Conselho Estratégico. Domingo, faz 100 dias que é líder do PSD.
Polémicas
Três nomeações, três tiros no pé
Primeiro, foi Salvador Malheiro. O diretor da campanha de Rio foi acusado de patrocinar irregularidades nos cadernos eleitorais. Havia quem apostasse que Rio o deixaria cair. Ao contrário, escolheu-o para a vice-presidência do PSD e para o Conselho Estratégico Nacional, como porta-voz para o Ambiente.
Depois, foi Elina Fraga, antiga bastonária da Ordem dos Advogados, também escolhida para a vice-presidência. A escolha foi considerada populista. A deputada Paula Teixeira da Cruz considerou-a mesmo uma "traição". Fraga foi recebida com apupos no congresso.
Finalmente, a escolha de Feliciano Barreiras Duarte para secretário-geral do partido. O deputado foi obrigado a demitir-se depois de reveladas as mentiras sobre o seu currículo académico. Em todos os casos, a mesma questão: como pode alguém anunciar que vai dar "um banho de ética à política" e escolher três pessoas com condutas, no mínimo, irregulares?
Aparelho
Críticas internas e adversários
O ex-líder parlamentar do PSD Luís Montenegro é, desde o dia em que Rui Rio foi eleito, o seu principal adversário interno e, para já, o seu óbvio oponente em eleições futuras. Depois de ter protagonizado o momento mais tenso do Congresso com um discurso cheio de críticas, voltou ao mesmo tom na reunião de Rio com a bancada parlamentar.
A ambição de Montenegro é de tal forma clara que Marques Mendes viu-se obrigado a fazer um aviso à navegação: "fazer cair Rui Rio seria um disparate monumental".
Mas Montenegro não está sozinho nas críticas (como, aliás, se notou nas dezenas de pessoas que juntou no seu jantar de despedida do Parlamento). Miguel Pinto Luz, antigo líder da distrital de Lisboa, permanece crítico. Hugo Soares ainda não digeriu a substituição na liderança da bancada. E Santana Lopes, que prometeu cooperação, já admitiu que a relação entre ambos já teve melhores dias.
Bancada parlamentar
Falar a duas vozes com Fernando Negrão
Rio é a favor da eutanásia, o PSD quer um referendo. Rio defende que deve ser o Estado a assumir a despesa na construção da ala pediátrica do Hospital de S. João, no Porto; o PSD entende que devem ser os mecenas. Rio é a favor do fim dos cortes nos salários dos membros de gabinetes políticos, o PSD é contra. Rui Rio e Fernando Negrão, líder da bancada parlamentar do PSD, já falaram várias vezes a duas vozes, o que torna difícil perceber qual é a posição oficial do partido.
Oposição
Poucas críticas ao Governo
Rui Rio já disse várias vezes que "Portugal é mais importante que o PSD", o que justificará a sua opção por um modelo moderado de fazer oposição. Até hoje, poucas críticas se ouviram de Rio ao Executivo de Costa, apesar de ter anunciado que a saúde, os incêndios e a injeção de capital da Misericórdia no Montepio são ataques prioritários. O líder social-democrata criticou o crescimento económico previsto pelo Governo no Programa de Estabilidade, a gestão de meios nos incêndios de 2017 e antecipou que dificilmente o Governo apresentará, para 2019, um orçamento que vá "ao encontro de princípios do PSD".
Cooperação
Elogios ao Governo de Costa
"O país não está bem mas está melhor", elogiou Rio, no que soa a atualização da frase proferida por Montenegro em 2014: "O país está melhor mas os portugueses estão pior." O líder social-democrata considerou positivo o facto de o défice orçamental de 2017 se ter situado em 0,9% do PIB, acrescentando que "é importante que as contas públicas caminhem para o equilíbrio".
Acordos
Interior e fundos da UE
"O acordo é bom para Portugal, e por isso é bom para o PSD. Quem pensa o contrário, pensa mal: quer estejamos no Governo ou na oposição, o nosso foco tem de ser Portugal. Estou contente por Portugal ter ganho."
A frase de Rio é uma nova doutrina no partido. Esta semana, assinou um acordo histórico com o Governo - sobre descentralização e fundos estruturais - e deixou no ar a possibilidade de mais acordos futuros.
