Há grupos de recrutamento com poucos professores. Fenprof estima dificuldades em fazer substituições em História, Geografia ou Inglês.
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Entre os 6581 professores recrutados na contratação inicial, 128 têm mais de 60 anos; 1110 têm mais de 50 e 86 menos de 30. O envelhecimento da classe faz-se sentir entre os contratados, mas há também colocados em horário anual e completo sem tempo de serviço - "um sinal da escassez de docentes em determinados grupos e regiões", defende Vítor Godinho, da Federação Nacional de Professores. Nos 35 grupos de recrutamento, 17 têm menos de 600 docentes por colocar. As escolas vão ter muitas dificuldades em fazer substituições a Informática, História, Geografia, Filosofia, Inglês ou Francês, alerta, tal como tem vindo a acontecer nos últimos anos.
O contratado mais velho é uma professora de 70 anos, no 1.º ciclo. O mais novo é uma docente de Geografia, de 23 anos, que terminou o curso e foi contratada para um horário anual e completo com zero dias de serviço no agrupamento de Sines.
"O distrito de Setúbal, tal como o de Lisboa, é dos mais deficitários", frisa Vítor Godinho, explicando que a professora deve ter feito uma candidatura alargada em termos geográficos, pelo que conseguiu um contrato onde ninguém quis. Se o próximo concurso interno se realizar daqui a quatro anos (há uma revisão prevista), ela pode renovar o contrato por mais três anos e conseguir vincular nos quadros ao abrigo da norma-travão. "São casos excecionais, extremos, mas sintomáticos de problemas do sistema educativo": o envelhecimento e a escassez de docentes, insiste.
Aulas em risco
"Há quase 20 anos, os grupos de História e de Geografia eram dos mais excedentários, hoje são dos mais deficitários. O desemprego fez a procura diminuir e houve instituições de ensino superior que deixaram de oferecer formação inicial nestas áreas. Hoje temos um problema que daqui a dez anos será o maior do sistema educativo. Não tenho a menor dúvida", argumenta.
Além de Informática (com apenas 206 professores por colocar, "que serão de certeza absorvidos nas primeiras reservas de recrutamento"), os grupos de História, Geografia, Filosofia, Francês ou Inglês têm docentes insuficientes para as necessidades de substituição de um ano inteiro. "Somar a essa carência o défice em determinadas regiões, como Lisboa, Setúbal ou Algarve, que já é transversal a todos os grupos, vai voltar a repetir-se alunos sem algumas das aulas", prevê.
Vítor Godinho deixa alerta: até 31 de dezembro, um horário não preenchido na reserva nacional pode passar para contratação de escola ao fim de uma semana. Num momento em que ainda há muitos candidatos, há o risco de docentes colocados em dezenas de horários.
À lupa
Idade média: 44,3
De acordo com a análise da Fenprof, a idade média dos contratados é de 44,3 anos. A maioria (79%) dos 6581 docentes já colocados tem entre 35 e 49 anos.
30 anos de serviço
A maioria dos 6581 contratados tem entre cinco e 15 anos de serviço (4316), 488 dão aulas há mais de 20 anos (dois até há mais de 35 anos) - devendo ser muitos, estima Vítor Godinho, docentes que passaram do ensino privado para o público.
2424 nos quadros
Dos 38 780 que concorreram ao concurso externo, 2424 entraram nos quadros pela norma-travão; 2287 foram retirados da contratação inicial por não terem manifestado preferência por escolas e 25 desistiram. Mais de 34 mil ficaram por colocar.