Só uns 20 mil postos de trabalho, em números largos, separam as previsões avançadas pelo PS e pela Coligação, mas a forma como os valores são apresentados aos eleitores é oposta.
Corpo do artigo
Se PSD/CDS remetem para os números enviados a Bruxelas em abril - o documento fala de uma subida acumulada de 4,2 pontos percentuais ou, em traços largos, 190 mil empregos até 2019 - já o PS especificou: 207 mil. António Costa garante que não é uma promessa, mas sim uma estimativa do impacto do programa eleitoral. Mas o que valem estas previsões e que perceção se cria no eleitorado quando se assumem números concretos?
Apresentar um programa com medidas concretas e quantificadas visa credibilizar a candidatura do PS junto do eleitorado do Centro que esteja descontente com o Governo, mas não confie na capacidade de gestão de contas públicas dos socialistas, entende André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica. Mas é um jogo arriscado, diz, sobretudo se as previsões falharem e a credibilidade conquistada se transformar em desconfiança.
E a probabilidade de as estimativas falharem é alta. Abel Fernandes, professor de Finanças Públicas na Faculdade de Economia do Porto, dá pouca credibilidade a quaisquer previsões, sobretudo se desconhecer os pressupostos e a metodologia usada. Está em causa, por exemplo, a evolução da economia dos países destino das exportações, a estabilidade da Zona Euro ou o grau de exigência do método. "Há demasiados fatores a influenciar a economia e que escapam ao controlo de qualquer Governo", diz.
O melhor será usar as previsões como um "elemento adicional de discussão, mas não como o elemento principal", diz André Azevedo Alves. A equipa de António Costa insiste que as estimativas apresentadas não são promessas eleitorais, o que leva o politólogo a perguntar: "Valerá a pena apresentar um número para logo de seguida dizer que vale muito pouco? Com que perceção fica o eleitorado?".
Margem de manobra da coligação
Quanto à Coligação, André Azevedo Alves acredita que tem uma "margem de manobra reduzida", devido aos compromissos assumidos junto de organizações internacionais. Até agora, Passos Coelho e Paulo Portas têm insistido na aposta no crescimento económico para aumentar o emprego e baixar o desemprego para um valor próximo da média europeia. Sem se comprometer com metas explícitas, a coligação tem mantido um discurso mais vago, reafirmando a intenção de prosseguir a política atual.
Esta é uma vertente que o PS poderia explorar, aliás como pedem algumas vozes socialistas, adianta André Azevedo Alves. "Haverá razões para argumentar que António Costa não tem conseguido capitalizar o suficiente" sobre o sucedido nos últimos quatro anos de governação", diz.