A tese em que André Ventura defendia as minorias e criticava o poder da polícia
A tese de doutoramento de André Ventura, de 2013, defendia as minorias, criticava a "expansão dos poderes policiais" e preocupava-se com os direitos dos agressores sexuais. São ideias contrárias às que atualmente afirma, mas o deputado e líder do Chega garante que "não há contradição nenhuma".
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Uma reportagem do Diário de Notícias (DN), que consultou a tese com o título (em português) "Os maiores desafios para a legislação de processos criminais", defendida na Universidade de Cork, na Irlanda, em 2013, refere que André Ventura escrevia, na altura, "tudo o que hoje chama de politicamente correto".
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Uma das contradições apontadas pelo DN é aquilo a que o André Ventura de 2013 chamava de fenómeno do "populismo penal", um "processo pelo qual os políticos aproveitavam e usam para sua vantagem aquilo que creem ser a generalizada vontade de punição do público". Um conceito que se assemelha ao próprio perfil do líder do Chega.
A tese analisa as políticas antiterrorismo pós 11 de Setembro de 2001 e a forma como estas alteraram os sistemas jurídico-constitucionais dos países ocidentais. Ventura mostrava-se preocupado com a expansão dos "poderes policiais" que "envolvem uma constante degradação dos direitos fundamentais no que diz respeito a aspectos criminais", assim como com o "aumento da suspeição em relação a determinadas comunidades que têm sido difíceis de combater".
O líder do Chega mostrava-se, naquela altura, preocupado com a "estigmatização de minorias" e o "discurso do medo", criticando o excesso de detenções "sem qualquer prova concreta", com "consequências devastadoras em termos de saúde mental dos suspeitos e da própria sociedade".
André Ventura optou por não permitir livre acesso à tese, financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), com restrição até 15 de Setembro de 2022, impedindo a sua consulta digital ou a utilização como referência para outros trabalhos académicos. O motivo está relacionado com a intenção de a publicar em livro. Só é possível consultá-la na biblioteca da Universidade de Cork, na versão em papel, ou na Biblioteca Nacional portuguesa, onde é obrigatório depositar as teses.
Ao DN, André Ventura afirmou que "não há contradição nenhuma" entre o que escreveu na tese e o que hoje defende, garantindo que "sempre distinguiu bem a parte científica da parte opinativa". "A minha tese não é uma questão de opinião, é uma questão de ciência", disse.