Evita a definição ideológica óbvia, que o coloca na extrema-direita. Prefere dizer-se "antissistema ou politicamente incorreto" e convoca o exemplo de Matteo Salvini, o político italiano que diz admirar "profundamente".
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Porquê? "Porque não teme apontar o dedo a quem vive à conta do Estado e às minorias que dele se aproveitam, e porque teve a coragem de quebrar o sistema". Prevê de resto um destino comum - "hei de quebrar o sistema político português, acabar com a III República e iniciar uma outra, demore o tempo que demorar".
A consistência do presidente do Chega levanta dúvidas. "Acho que não acredita em 90% das coisas que diz, o que é um elogio", afirma João Miguel Tavares. Na opinião do comentador e jornalista situado à Direita, tudo em Ventura é "demasiado calculado e teatral". Uma figura "com muita ambição pessoal e teatrinho, um oportunista a pensar num nicho de mercado". Para melhores resultados "falta-lhe a imigração. Os ciganos não são em número suficiente", defende o cronista.
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Ventura concorda: "Não temos os níveis de imigração, mas temos o funcionamento vergonhoso da justiça". Defende a prisão perpétua e, pegando na campanha à Câmara de Loures, declara-se "o único político depois do 25 de Abril a sair da esfera do politicamente correto". José Pinto Coelho, líder do PNR, considera-o um dos "seus". "Chamem-me o que quiserem. É-me indiferente", diz Ventura aos que o consideram racista e xenófobo.
Tempo houve em que a missão era a escrita. A estreia ficcional - "Montenegro" (2008) - conta a vida de Luís Montenegro, "nome escolhido ao acaso, garanto", um ciclista em luta contra o HIV e "a incomensurável estupidez que gera preconceitos dificilmente removíveis", lê-se no site de promoção do livro, inspirado num amigo que teve a doença. Até então, dificilmente se adivinhava o discurso extremista do dirigente. "Nesses anos, o radicalismo tinha a ver com a descoberta de Deus". Na verdade, até se apaixonar, "quis muito ser padre".
Vem do seminário e da Faculdade de Direito a amizade com Daniel Pereira. "O André é um irmão, uma pessoa muito inteligente e generosa, que sempre gostou de marcar posição e de lutar por bons resultados".
Fã de Reagan e de Passos Coelho, adorador de Lance Armstrong - "quando descobri que se dopava, chorei e essa foi a única vez que chorei em adulto" -, Ventura confessa que lida mal com o fracasso. O amigo tem fé: "Vejo-o primeiro-ministro ou presidente da República".
A segunda obra ficcional "aborda o Islão", e esteve suspensa devido "a ameaças fundamentalistas". Na Net, houve quem o comparasse a Salman Rushdie.
Adepto incondicional de desporto, especialmente de ciclismo (o pai tinha um pequeno negócio de peças para bicicletas), escreveu um livro, com a "taróloga" Maya, sobre o clube do coração - o Benfica. Vive com ele uma coelha chamada Acácia.
André Claro Amaral Ventura
Presidente do Chega
36 anos
Natural de Algueirão, Sintra
Licenciatura em Direito pela Universidade Nova de Lisboa. Doutoramento pela National University of Ireland
Sabia que...
É acrofóbico (ou "larofóbico"), ou seja, tem pânico de altura. Por isso, evita edifícios e escadarias altas, estradas e caminhos de montanha. "À medida que subo, começo a ficar com vertigens cada vez mais violentas".
Deita-se tarde e levanta-se cedo (oito da manhã) porque "bastam-me cinco horas de sono". "Acorda sempre bem disposto", diz o amigo Daniel Pereira. Apesar de raramente acordar em cima da hora, é "um atrasado crónico".
Ao longo do dia, não dispensa os espelhos. Sobretudo, "para verificar o nó da gravata - a par com os livros, são os seus presentes favoritos - e confirmar se o cabelo está bem ajeitado", diz um amigo