Mais acidentes e mais vítimas, mas menos mortes nas estradas portuguesas. No ano passado, a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) contabilizou 38 037 sinistros, mais do que no ano anterior e do que em 2014, e 477 vítimas mortais, menos do que em 2023 e do que há dez anos.
Corpo do artigo
O "Relatório Anual de Sinistralidade a 24 horas e Fiscalização Rodoviária 2024", divulgado esta sexta-feira pela ANSR, indica que, no ano passado, registaram-se menos 43 vítimas mortais do que em relação a 2019, ano de referência para a monitorização das metas fixadas pela Comissão Europeia e por Portugal, e menos 335 feridos leves, mas mais 786 acidentes e mais 224 feridos graves.
Excluindo as ilhas, no ano passado, sucederam 36 338 sinistros com vítimas em Portugal, dos quais resultaram 463 vítimas mortais - o único indicador que se reduziu, ainda que ligeiramente (-0,9%). De resto, 2024 teve mais acidentes (+3,9%), mais feridos graves (+5,7%) e mais feridos leves (+4%) do que em 2023. De acordo com a ANSR, que se apoia em dados do Instituto da Mobilidade e dos Transportes, tal pode ser justificado pelo facto de, no ano passado, ter havido "um aumento na circulação rodoviária na rede nacional de autoestradas, o que corresponde a um acréscimo no risco de acidentes nestas vias". "Contudo, verificou-se uma diminuição de 0,7% no consumo de combustível rodoviário, segundo dados da Direção-Geral de Energia e Geologia", indica o organismo.
A situação é muito idêntica quando comparada com 2019: no ano passado, houve menos 11 vítimas mortais, mas mais 634 acidentes e mais 275 feridos graves. Recuando uma década, os indicadores oscilam de forma semelhante. Em 2024, foram contabilizados quase mais 20% de acidentes e de feridos graves do que em 2014, mas menos 3,9% de vítimas mortais.
Mais mortes nas localidades e mais vítimas em velocípedes
O relatório aponta também para uma subida de vítimas mortais nos sinistros que ocorrem dentro das localidades, que representaram mais de metade (54,6%) do total no ano passado. Em 2019, houve 226 mortes dentro das localidades e 248 fora das localidades, enquanto, em 2024, os valores inverteram-se: 253 dentro das localidades e 210 fora das localidades. Em termos percentuais, houve um aumento no número de acidentes (+2,7%), de vítimas mortais (+11,9%) de feridos graves (+19,8%) dentro das localidades. Por outro lado, fora das localidades registaram-se reduções em todos os indicadores: menos 1,5% de acidentes, menos 15,3% de mortes, menos 1,2% de feridos graves e menos 4,3% de feridos leves.
Mais de metade (53,6%) dos sinistros registados em 2024 ocorreram devido a colisões. Este tipo de acidente provocou 41,5% do total de vítimas mortais e 46,6% dos feridos graves. Os despistes, que representaram 33% do total de acidentes, foram responsáveis por 44,3% das mortes. Das 463 vítimas mortais registadas, 73,2% correspondiam a condutores, 14,9% a peões e 11,9% a passageiros. Ainda que mais de metade (53,4%) das vítimas contabilizadas, em 2024, circulassem em veículos ligeiros (mais 2,6% do que no ano anterior), a ANSR revela um aumento significativo de acidentes com velocípedes: no ano passado, representaram 7,7% do total, mais 58% do que em 2019 e mais 11,3% face a 2023. As vítimas resultantes de sinistros com motociclos também aumentaram 35% e 7% em relação a 2019 e 2023, respetivamente.
Menos 40% de mortes em Setúbal
Atendendo à distribuição geográfica, Évora foi o distrito onde mais aumentaram os sinistros de 2023 para 2024, com uma subida de 12,4%, de 458 para 515 acidentes. O crescimento verificou-se em quase todos os distritos, com a exceção de Bragança (-0,3%), Castelo Branco (-3,2%), Portalegre (-1,5%) e Setúbal (-1,8%), o quinto distrito com mais acidentes do país.
Os distritos onde se verificaram menos acidentes foram também aqueles que assistiram, no ano passado, a diminuições significativas no número de vítimas mortais. Em Castelo Branco, a proporção baixou 40%, de 20 para 12 mortes; em Portalegre, a diminuição foi de 43,8%, de 16 para 9; e, em Setúbal, caiu 38%, de 50 para 31. Sem surpresa, Lisboa foi o distrito com mais acidentes (7694), seguido pelo Porto (6384), Braga (3312), Aveiro (2898) e Setúbal (2724).
Fiscalização subiu e infrações baixaram
Em 2024, foram fiscalizados presencialmente 2,9 milhões de veículos e condutores, e de forma automática, através de radar, pelas forças de segurança, pela Polícia Municipal de Lisboa e pela ANSR, 259,6 milhões de veículos, num total de 262,5 milhões, o que representou um aumento de 47,7% em relação ao ano anterior.
Ao todo, foram registadas mais de 1,5 milhões de infrações, uma diminuição de 10,1% face a 2023. O excesso de velocidade é de longe a infração mais frequente - representa 60,5% do total -, mas teve uma diminuição de 5,9% face a 2023. Há também menos multas devido à falta de cinto de segurança (-23,2%) e por causa do álcool (23,1%). Já as infrações por ausência de seguro obrigatório assistiram a um salto de 54,6%, bem como a falta de inspeção periódica (+26,9%).
No ano passado, 757,3 mil condutores encontravam-se sancionados e com menos pontos na carta. A ANSR indica também que desde a entrada em vigor do sistema de carta por pontos, a 1 de junho de 2016, e até dezembro do ano passado, 3425 condutores tiveram o seu título de condução cassado. Os restantes 397 condutores com zero pontos na carta - são 3822 no total - "já têm o processo instruído, 235 encontram-se na fase de audição da intenção de cassação do título de condução e 162 encontram-se na fase de notificação da decisão final de cassação do título de condução".
Nos nove anos da nova legislação, 2019 foi o ano mais negro para os condutores: 668 ficaram sem carta. No ano passado, 438 tiveram o título de condução cassado.