Desenvolvimento de softwares de análise de dados e sensores que medem humidade do solo são ferramentas-chave na qualidade do cultivo.
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Dedicam-se à agricultura a tempo inteiro, enfrentam "mil e uma" tarefas diárias e 24 horas não chegam para tudo. A tecnologia deu a mão aos produtores e ofereceu-lhes novas ferramentas para agilizar o trabalho. São softwares que recolhem dados das plantações e os analisam automaticamente, calculando, por exemplo, qual a frequência e quantidade da rega mais indicadas para garantir a qualidade e desenvolvimento do cultivo, bem como que tipo de pesticidas ou fertilizantes são mais adequados e a que horas do dia devem ser aplicados.
Tudo isto serve para "potenciar o crescimento da cultura, poupar recursos e aumentar resultados", explica Tiago Sá, diretor-executivo da Wisecrop, uma das startup portuguesas que têm apostado na digitalização do setor agrícola (agritech). A empresa está incubada na UPTEC - Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto.
Mas sem informações sobre o clima e o estado do solo através de sensores, por exemplo, e até mesmo sobre o aspeto visual dos cultivos (adicionados manualmente pelo próprio produtor) nada disto é possível. É este, precisamente, "um dos maiores desafios da agricultura: recolher dados fidedignos e precisos", refere o engenheiro eletrotécnico de 32 anos.
Gerir as regas
"Com a medição do clima conseguimos calcular a evapotranspiração e perceber a necessidade hídrica da planta para os próximos dias. Além disso, ao saber quanta água tenho no solo, o sistema correlaciona essas duas informações e dirá ao agricultor se precisa de regar 20, 30 ou 40 minutos", clarifica o diretor da startup, referindo-se à poupança de água e energia na bombagem de água para as quintas.
Mas "há sempre uma dependência do campo", alerta Tiago Sá. "No setor agro, por mais que tentemos, num futuro pelo menos próximo, vai ser, diria, quase impossível automatizar a 100%", esclarece.
As plataformas digitais ajudam os produtores, sobretudo, a gerir o tempo e a garantir a qualidade dos produtos. "Os agricultores têm de fazer mil e uma coisas por dia. Poupar tempo em algumas tarefas tem um impacto brutal na gestão e otimização do negócio", observa o diretor da Wisecrop, dando o exemplo da maioria "dos produtores de frutícolas", que trabalham o ano inteiro para "colher uma vez".
Segurança alimentar
Ao medir "a rega, a aplicação de nutrientes e a quantidade e momento de aplicação dos fitofármacos", diminuindo a dose "mas aplicando o que é necessário em cada tipo de cultura", além disso se refletir em melhorias da qualidade do produto, contribui para a segurança alimentar.
Como explica a engenheira agrónoma da PAM - Produção e Distribuição Hortícola do Litoral, Sofia Fonseca, de 40 anos, através da digitalização dos cadernos de campo, "é possível verificar se o produtor de um tomate, por exemplo, cumpriu o intervalo de segurança entre a aplicação de pesticidas".
Consumidor poderá ter acesso a dados de cultivo
Entre as várias ideias que a startup está a explorar, uma é a integração de um QR code nas embalagens de frutos ou legumes, à venda nas grandes superfícies, que permita ao consumidor aceder a todos os dados sobre o cultivo daquele produto. Ou seja, quando foi plantado, a que tratamentos foi sujeito, quando tempo demorou a ser colhido e até qual a temperatura na hora em que foi colhido.