Vários partidos e deputados em Portugal têm página no TikTok, conteúdos chegam a ter 130 milhões de visualizações. Ventura lidera pesquisas.
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As redes sociais, indiscutivelmente uma das realidades deste século, "invadem" uma larga parte das nossas vidas e os políticos não são alheios à tendência, pelo que mantêm um olhar vigilante para, em devido tempo, as usarem em seu benefício. A mais recente é o TikTok e, em Portugal, alguns dos seus conteúdos políticos ascendem a 130 milhões de visualizações, de acordo com os cálculos feitos por Paulo Rossas. O presidente da Lisbon Digital School diz que "a amplitude gratuita que estas plataformas oferecem" faz com que sejam uma tentação para os políticos.
André Ventura, líder do Chega, Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Ricardo Batista Leite, deputado do PSD, Inês Sousa Real, do PAN, e Joana Mortágua, do BE, são alguns dos políticos que têm páginas próprias naquela rede de vídeos de 60 segundos que tem 2,83 milhões de utilizadores em Portugal.
No que se refere aos partidos, a Direita domina: Iniciativa Liberal, PSD e CDS têm página oficial, mas também BE e PAN. Contudo, as pesquisas dos portugueses são mais dispersas nos seus interesses: André Ventura, as legislativas de 2022, Marcelo Rebelo de Sousa e o primeiro-ministro António Costa lideram a lista de buscas de temas políticos no TikTok, embora os dois últimos não tenham presença na rede.
A crescente politização das redes sociais, seja pelo seu conteúdo ou pelos políticos que as utilizam, justifica-se pela larga amplitude e pela gratuitidade no acesso. "Há 10, 20 anos, para chegar às pessoas os partidos tinham de andar na rua ou na televisão e, principalmente, tinham de gastar dinheiro. Com esta mudança, é possível fazer toda a campanha sem gastar um único cêntimo", diz Paulo Rossas.
Direita mais presente
André Ventura - com quase 45 mil seguidores e cerca de 177 mil gostos - lidera em número de seguidores os políticos em Portugal que estão no TikTok. Segue-se Inês Sousa Real, com 6774 seguidores e 131 mil gostos, e Joana Mortágua, com 5092 seguidores e 58 mil gostos. Já o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, tem cerca de 2100 seguidores: estreou-se em junho e apresentou num tom casual e relaxado o seu gabinete nos Paços do Concelho.
As contas partidárias têm menos expressão em termos numéricos mas presença crescente, apesar de nem todos os partidos do hemiciclo terem aderido. O PCP, que apenas tem conta dedicada à Festa do Avante!, explicou ao JN que não entende que uma conta nesta rede fosse melhorar a comunicação com o eleitorado e prefere o contacto direto com os trabalhadores. O BE apoia o uso desta e outras redes enquanto meio de "construir ferramentas para a transformação social", mas admite que há perigos, como o "discurso de ódio".
As "fake news" e a simplificação da mensagem política são os perigos normalmente atribuídos às redes sociais, opinião partilhada por Paulo Rossas, que alerta para a importância da formação. "O TikTok não consegue controlar todo o conteúdo que é partilhado", diz, admitindo que "o maior perigo é as pessoas não procurarem informação credível".
contra abstenção jovem
Facebook, Instagram e Youtube são as redes que mais chegam aos portugueses, mas é no TikTok que estão os mais jovens. CDS e Iniciativa Liberal assumem que estão nesta rede para chegar aos mais novos, mesmo que a mensagem tenha de ser diferente. A IL afirma que é uma "obrigação" adaptar a linguagem ao eleitorado que a ouve.
Ambos os partidos esperam que o recurso ao TikTok seja uma forma de combater a abstenção jovem, embora CDS aponte o dedo à falta de confiança no sistema político. Na mesma linha, a IL reforça a importância de "fazer mais pessoas interessarem-se por política" e esperou que a sua audiência jovem chegasse à aplicação para aderir.
Saber mais
Aplicação é usada por mais de mil milhões
Criada em 2016 na China, a rede social que nasceu com o nome Douyin apenas se estendeu para lá das fronteiras chinesas em 2017. Hoje, a aplicação alcança cerca de 20% de todos os utilizadores de Internet no Mundo e tem mais de mil milhões de utilizadores ativos por mês, o mesmo número de vídeos assistidos diariamente.
Lá fora
Brasil
O presidente brasileiro tem mais presença na rede do que o seu opositor nas presidenciais de 2 de outubro, o petista Lula da Silva. São 2,2 milhões de seguidores e 24,9 milhões de gostos contra 825 mil seguidores e 6,2 milhões de gostos. A cantora brasileira Anitta, apoiante do ex-presidente, tem insistido na necessidade de mais conteúdos de Lula nesta rede.
Colômbia
Rodolfo Hernández
O empresário da construção civil de 77 anos apresentou-se nas presidenciais colombianas de junho e a presença no TikTok foi uma das armas da eleição, saindo derrotado na segunda volta. O colombiano, cujo perfil na rede social o descreve como "ex-candidato presidencial, empresário, velho mas gostoso", conta com 615 mil seguidores e cerca de cinco milhões de gostos nos seus vídeos.
Estados Unidos
Ken Russel
O candidato ao Congresso norte-americano pelo estado da Florida tornou-se viral na rede depois de pedir aos eleitores para se registarem para votar. Para o democrata, as redes sociais oferecem um baixo custo de entrada e um alcance maior do que os meios convencionais, democratizando o processo de campanha para os candidatos com menos fundos.