Estudo alerta para situação alarmante em Portugal, que passará de cinco pessoas disponíveis para olhar por cada idoso para duas.
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Num país cada vez mais envelhecido, quem sobrará para tomar conta dos idosos? A resposta é: muito poucos. De acordo com um estudo recente, realizado por investigadores portugueses, o rácio de potenciais cuidadores informais por idoso vai cair a pique até 2050 em toda a Europa. Em Portugal e noutros países mediterrânicos, a situação é alarmante: os cinco potenciais familiares e amigos que há atualmente para cuidar de cada idoso passam para dois.
O estudo foi desenvolvido por investigadores do Cintesis-Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e da Universidade de Aveiro (UA) e publicado, no início do mês, na revista científica "Healthcare". Pegando nas estatísticas populacionais de 2011 e de 2020, a investigação apresenta projeções para as próximas décadas em 28 países europeus. O decréscimo é notório em toda a Europa, mas Portugal, Espanha, Itália e Grécia serão os países com menos pessoas para olhar pelos mais velhos. Portugal passará de cinco potenciais cuidadores (familiares e amigos com idades entre 45 e 64 anos) por idoso com mais de 80 anos em 2020, para dois entre 2040 e 2050 e menos do que isso na década seguinte.
Os investigadores alertam que as projeções exigem a tomada de medidas, como investimentos em estruturas residenciais para idosos ou apoios efetivos a quem presta cuidados a um familiar ou amigo. "Tendo em conta que os países mediterrânicos dependem muito dos cuidados informais, é particularmente importante prever a disponibilidade de cuidadores no futuro, de modo a enfrentar os desafios de uma sociedade cada vez mais envelhecida", avisa Óscar Ribeiro, investigador do Cintesis/UA e primeiro autor do artigo.
Impacto na vida de quem cuida
Com famílias cada vez menos numerosas, haverá menor rotatividade de cuidados e partilha de responsabilidades. O que terá impacto na vida profissional, pessoal e na saúde dos cuidadores.
Os investigadores alertam que os futuros cuidadores são hoje jovens e adultos com idades entre os 15 e os 35 anos, que terão a seu cargo familiares cada vez mais velhos (acima dos 90 e dos 100 anos) e mais dependentes de apoio diário para tarefas básicas, como higiene, toma da medicação, limpeza da casa, transporte, entre outras.
"Se queremos as pessoas idosas em casa, que cuidados vamos dar a quem presta cuidados? Apoios financeiros? Condições para mais flexibilidade no trabalho?", questiona Óscar Ribeiro. Apoio emocional, aconselhamento, reconhecimento de direitos, formação e acesso a soluções tecnológicas são outros apoios a considerar.
Pormenores
Abaixo da média - Em 2011, em 28 países europeus havia seis potenciais cuidadores por idoso (mais de 80 anos). Em Portugal, o rácio era de cinco para um.
Os menos afetados - Eslováquia, Bulgária e Hungria serão os países menos afetados pela redução de cuidadores: em 2050, terão mais de três por cada idoso.
Forma de cálculo - Para apurar o rácio de potenciais cuidadores por idoso, os autores dividiram o total de pessoas com 45 e 64 anos pelos idosos com mais de 80 anos, recorrendo a aos censos europeus. A fórmula já foi usada por uma associação americana de cuidadores.