O CDS exige explicações ao primeiro-ministro após demissão de Rovisco Duarte e o PSD alertou que a gravidade do furto do material militar de Tancos "não se apaga nem se esquece" com a demissão do chefe do Estado-Maior do Exército.
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O CDS-PP foi o primeiro partido a comentar a "inevitável demissão" de Rovisco Duarte de Chefe de Estado-Maior do Exército (CEME), devido ao caso de Tancos, e pediu explicações do primeiro-ministro, António Costa.
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Cinco dias após a demissão do ministro da Defesa Nacional Azeredo Lopes e uma hora após ser conhecida a saída do CEME, que o CDS-PP reclamava desde há meses, o deputado Telmo Correia responsabilizou António Costa e pediu-lhe explicações.
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"O elo comum que travou estas demissões, que pedimos há um ano e agora há poucos meses" é o primeiro-ministro e, "cabe, no limite, ao primeiro-ministro" dizer "por que aconteceu".
"Cabe-lhe explicar por que aconteceu agora [a demissão] e não antes", afirmou o deputado do CDS-PP, partido que propôs uma comissão parlamentar de inquérito ao furto de Tancos, cuja votação está agendada para dia 26 de outubro.
O CDS-PP admitiu vir a pedir a audição do primeiro-ministro, António Costa, na comissão parlamentar de inquérito ao furto de armas de Tancos, mas remeteu uma decisão para mais tarde.
O CDS-PP pediu, primeiro, a demissão do ministro Azeredo Lopes, em setembro de 2017, três meses após o furto de armas dos paióis de Tancos, e, depois, do general Rovisco Duarte, em julho último, após uma audição na comissão parlamentar de Defesa. "Tivemos razão desde o início", "tivemos razão antes do tempo", repetiu Telmo Correia aos jornalistas, recordando as duas demissões, a do ministro e a do CEME.
Gravidade do furto do material militar de Tancos não se apaga nem se esquece
O PSD alertou que a gravidade do furto do material militar de Tancos "não se apaga nem se esquece" com a demissão do CEME, assegurando que levará o caso até "às últimas consequências".
Em declarações aos jornalistas, o vice-presidente da bancada do PSD Carlos Peixoto considerou que o pedido de exoneração de Rovisco Duarte aconteceu depois de o presidente do grupo parlamentar do PS, Carlos César, ter defendido, na TSF, que eram necessárias consequências ao nível das Forças Armadas e em especial do Exército.
"O PS e o Governo podem protagonizar e defender as demissões que entenderem porque pensam que assim apagam, evaporam e consomem este caso. Mas a gravidade do caso Tancos não se apaga, nem se esgota, nem se esquece com esta demissão", alertou.
Segundo Carlos Peixoto, "o PSD levará este caso até às últimas consequências" na Comissão Parlamentar de Inquérito que irá realizar-se sobre Tancos.
Apurar tudo até às últimas consequências
No mesmo sentido, o deputado comunista Jorge Machado assegurou que nenhuma demissão retira "vontade política" ao PCP de "apurar tudo" no caso de Tancos.
"Queremos aqui registar o facto de o CEME assinalar agora que não tem condições para continuar no cargo e, ao mesmo tempo, dizer o que dissemos aquando da demissão do ministro. Nem uma demissão nem outra retiram qualquer vontade política ao PCP de apurar tudo até às últimas consequências", disse, nos passos perdidos do parlamento.
O parlamentar do PCP reiterou que "se impunha o apuramento das responsabilidades da estrutura das Forças Armadas, não só o capitão, o sargento e o praça que foram os únicos que sofreram processos disciplinares, mas que era importante que generais de duas e três estrelas, que tiveram responsabilidades na condução e medidas de segurança de Tancos, tivessem também sido responsabilizados".
"Quem quis fazer do caso de Tancos um problema de responsabilização política apenas deste Governo... Nós entendemos que essa responsabilização tem de ser feita de forma mais genérica, portanto isto não resolve o problema, quer do apuramento de responsabilidades criminais, que correm o seu curso judicialmente, quer de responsabilidades políticas, que são bem mais abrangentes do que as demissões destes dois elementos", continuou Jorge Machado.
Continuaremos a exigir que o processo vá até ao fim
O BE continua a exigir que o "processo vá até ao fim" e "que se apurem todas as responsabilidades" sobre o caso de Tancos.
O general Rovisco Duarte justificou perante o Exército o pedido de demissão do cargo de Chefe do Estado-Maior do ramo afirmando que "circunstâncias políticas assim o exigiram", disseram à Lusa fontes militares.
"O Bloco de Esquerda regista a demissão do Chefe do Estado-Maior do Exército. E continuaremos a exigir que o processo vá até ao fim, que se apurem todas as responsabilidades, com as consequências inevitáveis dessas mesmas responsabilidades, e é isso que estamos à espera", disse o deputado do BE João Vasconcelos, em declarações aos jornalistas no parlamento, em Lisboa
O BE, acrescentou, continua "a considerar que o que se passou em Tancos foi um ato muito grave e que revela uma das falhas das funções sociais do Estado na questão da Defesa".