O AVC, apesar de ser a principal causa de morte e de incapacidade em Portugal, "está muito longe de ter a atenção que merece", algo que é "transversal" a todas as fases: prevenção, acesso a cuidados, reabilitação e integração na sociedade após o AVC. O lamento é de António Conceição, presidente da associação Portugal AVC - União de Sobreviventes, Familiares e Amigos, que quer ver este tema discutido amanhã, quarta-feira, numa sessão no Parlamento que antecipa o Dia Nacional do Doente com AVC, que se assinala a 31 de março.
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Em novembro de 2021 foi aprovada na Assembleia da República uma resolução que recomendava ao Governo que desenvolvesse uma estratégia de acesso aos cuidados de reabilitação "eficaz, multidisciplinar e de abrangência nacional para os sobreviventes" de AVC, lembra António Conceição, que quer saber "o que tem sido feito e o impacto que a recomendação teve".
Ainda existem "desigualdades no país", assegura o líder associativo. "No Alentejo, há pessoas que têm de percorrer mais de 100 quilómetros para terem acesso a uma unidade de AVC e, consequentemente, à via verde. Em Santarém tem havido dificuldade em implementar uma unidade e há alguns locais do país onde funciona intermitentemente", refere António Conceição, explicando que "todos os minutos contam" e que a rapidez e qualidade do atendimento são decisivas para a severidade das sequelas.
Na reabilitação, "as desigualdades começam logo na unidade de saúde onde os doentes são tratados, na localização geográfica, capacidade económica, literacia em saúde dos familiares e do próprio. Isto não pode continuar assim", acrescenta.
"O Estado devia perceber que [o tratamento rápido e de qualidade a doentes com AVC ] é um investimento com retorno a curto e médio prazo, não é puramente um gasto", insiste António Conceição, sublinhando que a gravidade das sequelas e complicações de saúde tem "reflexos para o próprio, famílias, sociedade e Estado".
A nível social e laboral, também é preciso proporcionar "alternativas" para os doentes, que "não podem ficar esquecidos", diz ainda António Conceição.
Dia Nacional
O evento que decorre amanhã no Auditório Almeida Santos antecipa o Dia Nacional do Doente com AVC, que se celebra a 31 de março. Para além da Portugal AVC, participam António Maló de Abreu, presidente da Comissão de Saúde; Arlene Wilkie, diretora-geral da SAFE - Stroke Alliance For Europe; Elsa Azevedo, do Programa Nacional para as Doenças Cérebro-cardiovasculares da Direção-Geral da Saúde, representantes de grupos parlamentares e a Secretária de Estado da Saúde, Margarida Tavares.
De acordo com um relatório da SAFE - Stroke Alliance For Europe e da ESO - European Stroke Organisation, publicado em 2017, estima-se que, até 2035, ocorra um aumento de 34% do número de AVC devido ao envelhecimento da população. Na Europa, o número de pessoas a viver após um AVC deverá aumentar em um milhão, atingindo mais de 4,6 milhões de sobreviventes. Também está previsto que aumente o custo dos cuidados de saúde e outros cuidados relacionados com o AVC. Em 2015 os custos na Europa rondaram cerca de 45 mil milhões de euros.