Uma das bactérias mais comuns presentes no estômago, a Helicobacter Pylori, aumenta 11% o risco de doença de Alzheimer em pessoas com mais de 50 anos. Uma década após a infeção inicial, esse risco pode atingir os 24%, conclui um estudo científico que levanta a necessidade de avaliar a erradicação desta bactéria.
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Várias investigações já haviam mostrado uma possível relação entre a Helicobacter Pylori (H.Pylori) e o Alzheimer, mas o estudo realizado por uma equipa da Charité - Universidade de Berlim e da universidade McGill, do Canadá, publicado na revista científica "Alzheimer’s & Dementia" em meados de dezembro, destaca-se pela amplitude da amostra: foram analisados dados de mais de quatro milhões de cidadãos do Reino Unido entre 1988 e 2019. E as conclusões são claras.
"O nosso estudo mostra que as infecções sintomáticas com H. Pylori após os 50 anos de idade podem estar associadas a um aumento de 11% no risco de doença de Alzheimer. O aumento do risco atinge um máximo de 24% cerca de uma década após a infeção inicial", explicou Antonios Douros, resumindo as conclusões da equipa na apresentação do trabalho.
Tal não significa que todas as pessoas que tenham tido uma infeção sintomática venham necessariamente a desenvolver a doença de Alzheimer.
O que está em causa é um aumento do risco relativo em comparação com as pessoas que não tiveram infeção por aquela bactéria após os 50 anos de idade.
"Para nós, esta descoberta reforça a hipótese de que uma infeção por H. pylori pode ser um fator de risco modificável para a doença de Alzheimer", conclui Antonios Douros. Ainda assim, são necessários mais estudos para se perceber se a erradicação desta bactéria intestinal pode realmente afetar o desenvolvimento da doença de Alzheimer.
Estima-se que a H. Pylori afete 70% a 90% da população dos países desenvolvidos. A infeção pode ser assintomática, mas também pode provocar inflamação do estômago ou mesmo cancro do estômago. É detetável através de exames e tratável com antibióticos.
Olhando para o futuro, os investigadores concluem que os resultados "abrem caminho para futuros ensaios aleatórios que avaliariam o impacto e a relação custo-eficácia de intervenções direccionadas de base populacional, tais como programas individualizados de erradicação da H. Pylori".