O Banco de Portugal prevê uma desaceleração do crescimento económico em Portugal em 2024, para 1,6%. Trata-se de uma revisão em baixa face à estimativa de junho, quando a instituição apontava para os 2%. O governador, Mário Centeno, avisou que este é o momento de garantir "almofadas financeiras para o futuro".
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Segundo o Banco de Portugal, a inflação deve reduzir para 2,6% em 2024. Depois disso, deverá fixar-se nos 2%, o objetivo estabelecido pelo Banco Central Europeu. Estima-se que a poupança atinja um nível superior a 11% do rendimento disponível.
A estimativa de crescimento de 1,6% em 2024 mantém a convergência com a área do euro. O Banco de Portugal estima também que Portugal cresça 2,1% em 2025 e 2,2% em 2026. No boletim de junho, as previsões de crescimento eram de 2% em 2024, 2,3% em 2025 e 2,2% em 2026 (a única que se mantém inalterada).
O emprego continua a crescer. Mário Centeno frisou que o mercado de trabalho se mantém "resiliente" muito por causa da aposta nas qualificações, embora tenha avisado que dá "os primeiros sinais de arrefecimento".
O governador alertou ainda para o contexto de "incerteza política global", reforçando, pouco depois, que haverá um clima de "incerteza considerável" durante os "próximos anos" na Europa.
Centeno deu ainda nota de que o rendimento disponível "cresce muito fortemente em 2024", o que se traduz num "crescimento forte do consumo privado". Ainda assim a poupança também aumenta, em larga medida devido ao "impulso" dado pelas taxas de juro.
O maior crescimento na despesa desde 1992
Ao longo da conferência de imprensa, o responsável máximo do Banco de Portugal foi evitando entrar no debate em torno do Orçamento do Estado recusando fazer considerações diretas sobre propostas como o corte no IRC. No entanto, pediu "gradualismo" na implementação de medidas, sustentando que a "previsibilidade fiscal" é importante para que haja investimento e alertando: "Grandes passos, normalmente, dão grandes surpresas". Apelou ainda a que as medidas no Orçameto venham acompanhadas do custo.
Avisando, por mais de uma vez, que em 2024 houve "crescimentos na despesa que não eram observados desde 1992", Centeno sublinhou os riscos de uma política "expansionista". Considerou que esta deve ser usada "com muita parcimónia" e que o ritmo da redução da dívida deve ser mantido.
O governador do Banco de Portugal avisou ainda que devem ser criadas, tanto pelo Estado como pelos cidadãos e empresas, "almofadas financeiras para o futuro". Essa atitude, vincou, servirá como "forma de proteção" para enfrentar o contexto de "incerteza" que as economias europeias atravessam.