Produção hidroelétrica nos primeiros 111 dias do ano inferior em 71,4%. Chuvas de março e primeiros dias de abril não encheram albufeiras críticas.
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As chuvas de março e dos primeiros dias de abril não permitiram a recuperação assinalável, na primeira quinzena do mês, das albufeiras mais afetadas pela seca nem da produção hidroelétrica, que, entre 1 de janeiro e anteontem, foi menor em 71,4% à gerada no período homólogo do ano passado. A notícia boa é que a energia solar está a aumentar: nos primeiros 111 dias do ano, gerou mais 73% de eletricidade do que em período idêntico de 2021.
Segundo cálculos do JN com base nos balanços energéticos da REN - Redes Energéticas Nacionais, entre 1 de janeiro e anteontem, a produção solar - a maior de sempre - soma 642 gigawatts-hora (GWh), que corresponde a 4,7% do total de 13 595 GWh gerados no sistema eletroprodutor nacional.
Aquele aumento tem uma expressão significativa nos primeiros meses. Em janeiro, a produção solar foi de 154 GWh (+117% do que no homólogo de 2021); em fevereiro, foi de 161 GWh (+127%); em março, foi de 159 (+15,2%); e nos primeiros 21 dias de abril, foi de 168 GWh (+85%).
Para o presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), Pedro Amaral Jorge, há duas razões essenciais: durante 2021, entraram em operação mais 700 megawatt (MW) de potência instalada fotovoltaica; e os meses de janeiro, fevereiro e março foram "particularmente soalheiros, com muita radiação direta, o que é pouco comum" nessa altura.
Se o sol foi generoso, a chuva faltou nos meses de janeiro e fevereiro. Embora chuvoso, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, com o valor médio da precipitação (102,5 milímetros) correspondendo a 168% da média 1971-2000, março não ajudou muito. E os primeiros dias de abril também não.
Segundo o último boletim semanal, no dia 18, dez das 59 albufeiras monitorizadas pela Agência Portuguesa do Ambiente apresentavam disponibilidades inferiores a 40% do volume total e os armazenamentos eram inferiores às médias, exceto nas bacias do Douro, Mondego e Guadiana.
Abril acelera
Nesse dia, a situação mantinha-se crítica em cinco albufeiras, sujeitas a restrições de uso desde janeiro. Na do Alto Lindoso, no Rio Lima, associada à central hidroelétrica com maior potência instalada no país (630 MW, com produtividade média anual de 909,6 GWh), o nível era de 19%.
Isso ajuda a explicar a expressiva redução da produção total de energia elétrica (-3 213 GWh, ou seja, -19%) em 111 dias deste ano, comparado com o mesmo período de 2021, mas sobretudo nas centrais hídricas (-4 655 GWh, isto é, -71,4%), influenciando a diminuição em 33,4% (-4 096 GWh), do conjunto de renováveis.
A queda da produção das renováveis foi de -26,7% em janeiro, agravou-se em fevereiro (mês muito seco), com -64,8%, recuperou um pouco em março, mas ainda negativo (-20%). No entanto, até anteontem já regista mais 17,4% do que nos 21 dias homólogos de 2021.
A impulsionar as energias renováveis, a eólica subiu 116,9% em janeiro, em relação ao de 2021, 39,9% em março e 135% em abril, ao passo que a solar registou diferenças positivas em 116,9% em janeiro, 126,8% em fevereiro, 15,2% em março e 84% em abril.
Albufeiras críticas
Cinco albufeiras apresentavam na terça-feira níveis críticos de armazenamento, mantendo-se as restrições da Agência Portuguesa do Ambiente a usos - como a produção de eletricidade e acesso ao plano de água, como no caso do Alto Lindoso, na bacia do Lima, que estava a 18% da capacidade, ou a rega na da Bravura (ribeiras do Barlavento algarvio), que estava a 15%.
A de Vilar-Babuaço (Douro) estava a 21% no boletim do dia 18, enquanto no Sado, a de Campilhas apresentava apenas 5% e a de Monte da Rocha 15%. No dia seguinte, no Tejo, as albufeiras de Castelo do Bode registava 67%) e a de Cabril 38%.