A coordenadora do BE considerou, esta sexta-feira, que "a direita não tem qualquer resposta" para os problemas estruturais do país e que no discurso do novo líder socialista há um reconhecimento de que o modelo económico seguido "é errado".
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Mariana Mortágua reuniu-se esta manhã com economistas para debater a prioridade da política económica para Portugal, tendo em declarações aos jornalistas apontando como "problemas estruturais do país" os "baixos salários, o défice da balança comercial e a uma excessiva especialização nos setores do turismo e do imobiliário".
"São estes os principais problemas que tivemos a trabalhar, para os quais a direita não tem qualquer resposta. Mesmo se tivesse um programa eleitoral - coisa que não tem, porque nenhum partido de direita foi capaz de apresentar o seu programa eleitoral até este momento - todos os discursos que temos ouvido não fazem a mínima ideia de como é que se resolvem os problemas estruturais do país", criticou.
Questionada sobre se no discurso do novo líder do PS, Pedro Nuno Santos, tem identificado medidas ou propostas que perpetuem aquilo que apelidou de "economia de pobreza", lembrou que os socialistas ainda não apresentaram o seu programa..
Mariana Mortágua considerou, no entanto, que no discurso do secretário-geral socialista parece haver "um reconhecimento de que esse modelo não deu os frutos desejados e que esse modelo é errado e que cria uma enorme dependência de Portugal do modelo de baixos salários, dependência de setores de pouca produtividade e de pouco valor acrescentado".
"Os sinais que temos ouvido do discurso são sinais de uma mudança dessa política industrial, ela tem de ser concretizada, tem de ser debatida, as suas prioridades têm que ser debatidas e é preciso saber exatamente quais são os instrumentos para mudar o rumo da economia portuguesa", defendeu.
Segundo a líder do BE, foi nesse sentido que o partido fez "a reunião com várias personalidades, para especialistas, académicos, gente que pensa a economia, que pensa o mundo do trabalho" dar o seu "contributo para essa discussão".
"A ideia de que a esquerda não tem uma resposta para a economia é uma ideia profundamente errada, porque a única ideia que a direita tem tido para a economia ao longo dos anos é a ideia de deixar o mercado fazer aquilo que bem entende e o Estado dá benefícios fiscais às principais atividades económicas", criticou.
O resultado dessa política, na opinião de Mariana Mortágua, "é uma porta giratória entre interesses privados e interesses públicos".
"O aproveitamento, por parte de grandes empresas, de fundos públicos, de fundos do Estado, dos contribuintes, como temos visto ao longo dos últimos anos e o desenvolvimento dos setores que são muito rentáveis no curto prazo, dão muitos lucros aos seus acionistas, mas que não desenvolvem o país", disse.
Na opinião da líder do BE, foi assim que Portugal acabou "com uma economia dependente da bolha imobiliária, dependente do turismo desenfreado e de baixas qualificações" e também "dependente de grandes empresas como a EDP, como a Galp que exploram monopólios naturais".
"Esta economia é uma economia de pobreza. Portugal, se continuar neste caminho, está condenado a uma posição de dependência, de baixos salários e de pobreza. Nós queremos mudar o rumo desta economia, queremos uma política industrial", disse.
Para Mortágua, é preciso "pensar quais são os setores que têm que ser desenvolvidos" e "qual o papel do Estado na qualificação da economia, no apoio e no desenvolvimento de setores económicos específicos e que têm que ser pensados".
Eleitores "ficaram vacinados" com sondagens das últimas legislativas
A coordenadora do BE considerou que os "eleitores em Portugal ficaram vacinados com o que aconteceu" com as sondagens nas últimas legislativas e que, quanto às eleições de 10 de março, "a procissão ainda vai no adro.
"Sobre as sondagens, gostaria de dizer uma coisa: o país sabe o que aconteceu com as sondagens nas últimas eleições e, portanto, acho que aprendemos todos que as sondagens valem o que valem, como se diz", começou por responder.
Para a líder do BE, "os portugueses e os eleitores em Portugal ficaram vacinados com o que aconteceu nas últimas eleições e sobre o papel das sondagens".
"Sabemos o que aconteceu nas últimas eleições e como as sondagens se enganaram", recordou.
A uma semana das legislativas de 2022, que o PS acabou por ganhar com maioria absoluta, sondagens chegaram a dar o PSD à frente dos socialistas.
"A segunda nota é que a procissão ainda vai no adro e o Bloco de Esquerda está aqui, está muito comprometido a construir uma maioria em Portugal, uma maioria política capaz de virar esta página de maioria absoluta, capaz de pensar o que é uma economia de altos salários, uma economia digna, um país capaz de resolver o principal problema que tem, que é o acesso ao SNS, o problema da habitação", enfatizou ainda.
A líder bloquista mostrou-se convicta que "essa maioria vai existir e que no dia a seguir às eleições, Portugal terá uma maioria capaz de ter um acordo que garanta não só a estabilidade ao país, mas também a capacidade de resolver problemas que se arrastam há demasiado tempo".
"E dar um horizonte de esperança e de melhoria da qualidade de vida para todos os portugueses, para quem vive em Portugal, para a maioria da população. É por isso que estamos a trabalhar e vamos ganhar essa batalha e estamos convictos disso", acrescentou.
Sobre as eleições nos Açores deste fim de semana e a possibilidade de influenciar os resultados das legislativas, Mortágua considerou que "as eleições são necessariamente diferentes e cada eleição tem as suas dinâmicas próprias".
"Acho que é sempre errado fazer colagens, extrapolações ou previsões com base em outros processos eleitorais", ressalvou.
No entanto, a situação dos Açores deve deixar o eleitorado consciente de duas situações.
"Que uma governação de maioria de direita nos Açores, o que deu é uma economia mais pobre, com mais pobres, de facto, um aumento muito substancial da pobreza, apesar de haver mais riqueza, o que quer dizer que há mais desigualdades e uma distribuição inédita de lugares e nomeações no estado", referiu.
Segundo a líder do BE, o Governo Regional dos Açores "bateu todos os recordes de nomeações e distribuição de lugares, 8 milhões de euros", ironizando tratar-se de "uma indústria em desenvolvimento nos Açores, pelas mãos do Governo da direita".
"A segunda coisa que sabemos sobre o Governo dos Açores da direita é que o PSD não faz acordos com o Chega até o dia em que faz acordos com o Chega e essa é uma lição que não esquecemos", enfatizou.