"Não desistimos do país, pois não?", diz a porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, a uma mulher, ao entrar no Mercado Municipal de Miranda do Corvo, na manhã desta quarta-feira.
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Segue distribuindo cumprimentos com o som da gaita-de-foles e do bombo em pano de fundo, cravo vermelho na mão. "Gosto muito de a ver na televisão", atiram-lhe. Ou, já lá fora, no recinto da feira: "Gosto tanto de a ouvir falar! Não tem medo deles!".
Até há quem peça para tirar uma fotografia com Catarina Martins. José Manuel Pureza, cabeça de lista por Coimbra, trata disso, e João Leandro, de 57 anos, fica com o momento registado no telemóvel. "Gosto muito dela, é simpática e fazem falta a Portugal pessoas daquelas, para o país ir para a frente", conta ao JN. No dia 4 vai votar no BE, "com todo o gosto".
Já Luísa Lapa, de 55 anos, vendedora no mercado, está indecisa. Mesmo mostrando simpatia por Catarina Martins: "Gosto muito de a ouvir falar". Elogio renovado após trocarem umas palavras sobre "o metro prometido, que acabou por tirar o comboio a Miranda do Corvo", como frisou a porta-voz do BE. Antes, em dias de mercado, "costumava vir muita gente de Coimbra, até em passeio", que "comprava sempre qualquer coisa", recorda Luísa. "Valia mais o material antigo que cá estava do que não termos nada!".
Votar pensando nos que foram "obrigados a partir"
Naquele município do distrito de Coimbra, Catarina Martins assinalou questões locais, como essa, do metro, sem esquecer outras mais amplas: "Estamos numa zona do interior do país que tem sido tão martirizada pelo desemprego, pela falta de acessibilidades, pela falta de serviços públicos, e aqui vemos, como em tantos outros locais, o número de pessoas que foram obrigadas a emigrar e as pessoas que nos dizem que os filhos já cá não moram".
Lembrando que nesta semana se começa a votar nos consulados, mas "há 485 mil pessoas que emigraram nestes quatro anos e a maior parte delas não vai conseguir exercer o seu direito de voto, não vai conseguir defender-se nestas eleições", a porta-voz do BE deixou um apelo "a quem cá está, aos pais e os avós que vêem os filhos e os netos obrigados a partir: que no momento do voto pensem neles".
"Pensem em quem não pode estar cá no dia 4 de outubro para votar. Pensem em quem cá não tem emprego, ou não tem um salário digno. Pensem em quem quer viver neste país, em quem quer construir futuro", prosseguiu Catarina Martins.
Acentuando: "É muito importante que no dia 4 de outubro toda a gente que possa votar não deixe de o fazer", "por si" e "por quem está fora do país". Estes últimos "na sua grande maioria não podem votar", sustentou, "porque não se recensearam a tempo, porque o recenseamento é complicado, porque os consulados não funcionam bem".
Metro Mondego: retrato de um país "enganado"
Em declarações aos jornalistas, a porta-voz do BE voltou ainda à questão do projeto Metro Mondego. "As pessoas acreditaram na promessa de que iam ficar melhor e depois perderam o comboio, nunca tiveram o metro. Houve com certeza conselhos de administração a ganhar muito dinheiro ao longo deste tempo, mas quem vive em Miranda do Corvo ficou cada vez pior", afirmou Catarina Martins.
Recorde-se que, em 2009, os comboios deixaram de circular no Ramal da Lousã, no âmbito do Sistema de Mobilidade do Mondego. As obras foram iniciadas e posteriormente suspensas por motivos financeiros. "Este é o retrato de muitas das promessas que têm sido feitas no país e que têm sido quebradas, e de um país que tem vindo a ser enganado", concluiu a porta-voz do BE.