Há bolseiros de doutoramento que estão sem receber bolsa há quatro meses. A denúncia é feita ao JN pela Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) e diz respeito a investigadores que iniciaram os seus trabalhos em dezembro, em regime de exclusividade, após terem ganho uma bolsa no concurso de 2018. Uma situação, dizem, "inadmissível" e que se repete ano após ano. No ano passado, recorde-se, foram atribuídas 963 bolsas de doutoramento.
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"Os resultados do concurso saíram em agosto e temos colegas que iniciaram os seus trabalhos em dezembro e que não assinaram ainda contrato, nem receberam qualquer valor", garante Sandra Pereira. Para a presidente da ABIC, trata-se de uma "situação incompreensível, que não tem cabimento nenhum".
A investigadora revela terem sido enviados vários pedidos de esclarecimento à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), até à data sem resposta. Segundo a presidente da ABIC, o argumento usado no passado pela FCT é o de que tudo será pago com retroativos.
direto a retroativos
O problema é que, indigna-se Sandra Pereira - a própria, no passado, já esteve na mesma situação, recebendo posteriormente a bolsa com retroativos -, "as pessoas não pagam as suas contas com os retroativos que hão de vir".
À ABIC, revela, chegaram casos de "colegas que têm filhos, têm de pôr comida na mesa e não sabem como". Se no passado uma das justificações era a abertura tardia do concurso, a mesma hoje não colhe. Isto porque a tutela determinou que o concurso para atribuição de bolsas de doutoramento é lançado, sempre, até ao final do mês de fevereiro. "É um problema que, independentemente da direção da FCT, ocorre sistematicamente todos os anos", afirma Sandra Pereira.
Atrasos que não dizem apenas respeito às bolsas de doutoramento. "À Associação dos Bolseiros de Investigação Científica chegam constantemente casos de atrasos quer no início de pagamentos de bolsa, quer na resposta a pedidos de renovação", conclui.
Questionada pelo JN, a FCT recusa atrasos e garante que os pagamentos são feitos logo que os contratos são assinados. "Das 956 bolsas concedidas, 680 estão contratualizadas", esclarece fonte da Fundação, acrescentando que, esta semana, estão a ser processados os pagamentos das bolsas com início até 1 de março e cujos contratos foram assinados nos últimos 15 dias.