Mariana Mortágua, que este domingo será confirmada como nova líder do BE, acusou António Costa de alimentar "o vírus da Direita". Também considerou que a maioria absoluta do PS foi uma "maldição" que gerou "uma sucessão ininterrupta de irresponsabilidades" - desde o "festival de facilidades" para a banca e grandes empresas até ao facto de, segundo a deputada, o Executivo "tratar como estúpidas" as pessoas que estão a empobrecer.
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No discurso de apresentação da moção A na convenção do BE, Mariana Mortágua acusou o Governo de apenas reservar para a extrema-direita "palavras vazias que alimentam ressentimento e medo". Ao mesmo tempo, argumentou, Costa "evoca o seu poder como se viesse vacinar-nos contra um vírus".
No entender da deputada, "o vírus mais perigoso é esta forma de pisar as pessoas com o empobrecimento, com a desproteção social e com armadilhas". Entre elas inclui os tratados europeus, "que impõem aos povos a diminuição dos salários e a substituição dos serviços públicos por prestações privadas e desiguais".
"É deste ataque à soberania democrática que se alimenta o vírus da Direita", considerou Mortágua. Para combater aquilo a que chamou "necropolítica" - e que disse ser impulsionada pelo "capitalismo rentista", gerador da "globalização liberal" -, propôs "a segurança da vida das pessoas". Essa alternativa, frisou, engloba "igualdade, habitação, saúde, educação, salário e justiça nos impostos".
Mariana Mortágua considerou que o país está atualmente num "pântano", argumentando que este se supera "com democracia e não com uma chantagem ridícula que acusa de populista qualquer voz crítica do Governo". Esta observação foi aplaudida pelos mais de 600 delegados que compõem a convenção.
"Levar o país a sério é dizer ao povo que não estamos condenados à degradação e ao vexame que a maioria absoluta impõe a Portugal", acrescentou a deputada.
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As quatro "irresponsabilidades"
"Há um ano, sabíamos dos riscos da maioria absoluta: prepotência e conluio com os poderes mais opacos do país", afirmou Mariana Mortágua, no mesmo discurso. No entanto, atirou: "Não imaginávamos a que ponto chegaria esta maldição que é o poder absoluto".
Referindo-se às "irresponsabilidades" do Governo como um "espectátulo horroroso", a próxima líder bloquista passou a descrever cada uma delas. A "primeira irresponsabilidade" foi, disse, o PS ter bloqueado "um Orçamento com mudanças sensatas [para 2022], preferindo aceitar a degradação do SNS" e abrir uma crise política. "O Governo está a condenar o SNS ao estrangulamento", reforçou.
A "segunda irresponsabilidade" elencada pela bloquista foi o "festival de facilidades" concedidas à banca e grandes empresas. A venda de seis barragens da EDP "sem pagar impostos", os mil milhões de euros anuais para "insultuosos benefícios a residentes não habituais" ou os "oito mil milhões de créditos fiscais perpétuos para a banca" foram, frisou, responsabilidade de um Governo "que cobra ao salário os impostos que perdoa às elites económicas".
A "terceira irresponsabilidade" a que Mortágua se referiu prende-se com a resposta à inflação. Neste capítulo, denunciou a "perda real de salário" a que os trabalhadores foram condenados, ao mesmo tempo em que o Executivo se recusa a tocar "nos lucros-recorde dos supermercados".
Por último, a "quarta irresponsabilidade" trazida pela deputada é o facto de, segundo esta, o Governo "tratar como estúpidas as pessoas que estão a ser empobrecidas". A este respeito, lembrou que o Executivo "mentiu" aos pensionistas "dizendo-lhes que, se não abdicassem do valor real da pensão, o sistema perderia 13 anos de vida".