A idade importa? E a experiência? Pesam no perfil dos candidatos ao Parlamento Europeu (PE), mas não são fatores absolutos, garante quem conhece os meandros da política comunitária, destacando outros critérios como a área de formação e o conhecimento.
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"Visto que o Parlamento é o reflexo da população europeia, ele reúne membros de todas as idades e experiências profissionais", referiu ao JN o porta-voz do PE, Jaume Duch Guillot. A título de exemplo, destacou que, na atual composição, o mais velho tem 90 anos e o mais novo apenas 30. E, em 2014, a renovação foi de 52,73%.
Média mais elevada no PS
Por cá, as seis listas dos partidos com assento na Assembleia da República têm um perfil etário que não é elevado. A média dos primeiros cinco é de 45,7 anos. A mais alta é do PS, de 55, que tem também o candidato mais velho, neste caso a candidata Maria Manuel Leitão Marques, de 66 anos. A menor é da CDU com 38,8 e segue-se o PAN com 39.
No geral, domina a faixa etária dos 40 aos 50 anos, com nove candidatos.
Se aplicada apenas aos cabeças de lista, a média é ainda menor, de 43,6. O mais velho é Nuno Melo (53), do CDS, e o mais novo Francisco Guerreiro (34) do PAN.
Das três dezenas de candidatos analisados, a aposta mais jovem é sem dúvida do PSD: Lídia Pereira, de 27 anos e líder da maior organização política juvenil da Europa, está em segundo.
Mas, ao mesmo tempo, o PSD está quase empatado com o PS na presença do candidato mais velho, uma vez que Álvaro Amaro faz 66 na véspera das eleições.
Muitas vezes se fala do PE como "prateleira dourada". Mas há quem faça o percurso inverso. António Costa, hoje primeiro-ministro, já foi eurodeputado em 2004 e 2005, e "vice" do PE, entre os seus cargos de ministro: antes, Assuntos Parlamentares e Justiça; depois, Administração Interna.
Sobre a importância da idade, Viriato Soromenho-Marques, investigador na área dos Assuntos Europeus, defende que "temos de analisar o perfil caso a caso". Até porque "um deputado jovem pode ter uma mais-valia se a formação académica for relevante e na área".
"Não nego que a idade é um fator importante", refere. Porém, tal como a experiênciapolítica nacional, "não é fator absoluto", nem "substitui o conhecimento" essencial à negociação do país. Além disso, o candidato "pode ter mais experiência mas fora da temática".
"Um dos grandes problemas do PE e da política europeia é a profunda incompreensão da maior parte dos dirigentes políticos sobre assuntos europeus", considera Viriato Soromenho-Marques. Há desconhecimento das regras do jogo e do modo de funcionamento da UE.
De resto, "as grandes questões europeias não são discutidas porque os candidatos não têm conhecimentos para isso" e usam a campanha como "plataforma" para eleições nacionais com temas como o "familygate".
Comités e comissões
Ana Isabel Xavier , professora e investigadora na Universidade Autónoma de Lisboa/Observare e no Centro de Estudos Internacionais (ISCTE/Instituto Universitário de Lisboa), nota que em abril de 2018 a idade média no PE era de 55 anos, segundo o European Parliamentary Research Service.
Destaca a divisão etária por comités e comissões parlamentares. "Enquanto os grupos etários mais jovens tendem a distribuir-se de forma homogénea, embora com preponderância para a Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade de Género, os Assuntos Constitucionais e Relações Exteriores parecem estar estruturalmente reservados para a faixa etária acima dos 60 anos", disse ao JN. "Tal revela uma divisão implícita entre assuntos de "low/soft politics" e "high/hard politics", como se os últimos fossem mais substantivos em termos de soberania estatal", exigindo "mais maturidade etária e profissional", refere.
Além disso, "a idade e o género confluem: são os homens e os mais velhos que estão representados nas áreas "high/hard politics"".
OUTROS DADOS
Listas concorrentes
Há 17 listas às eleições europeias afixadas pelo Tribunal Constitucional, cada uma com 21 candidatos efetivos, o número de portugueses a eleger.
Liderança repetente
Entre os partidos com assento parlamentar, a maioria repete o cabeça de lista. Lideram pela terceira vez Paulo Rangel (PSD), Nuno Melo (CDS) e Marisa Matias (BE); e pela segunda João Ferreira, da CDU. Pelo PAN, Francisco Guerreiro sobe para primeiro e o PS aposta na estreia de Pedro Marques.
Idade e género no PE
São os homens e os mais velhos que estão representados nas áreas "high/hard politics" e as mulheres e os mais novos nas áreas tradicionalmente consideradas como "low/soft politics", destaca Ana Isabel Xavier. Esta divisão é ainda espelhada pelas famílias políticas: as mulheres e os mais jovens pertencem maioritariamente ao espetro político de Esquerda progressista; os homens e os mais velhos vêm das alas mais conservadoras e do espectro político de Direita.