Governo socialista alega "legitimidade democrática" e confia nos votos do PCP e Bloco de Esquerda para aprovar a sua proposta na Assembleia da República.
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Bento XVI não perde uma ocasião para denunciar a "ditadura do relativismo", que "não reconhece nada como definitivo e deixa como medida última apenas o próprio eu e as suas vontades", banalizando princípios e valores. Cita as leis que atentam contra a "sacralidade da vida humana": a licitude do aborto, da eutanásia e das experiências genéticas, e, ainda, as que desrespeitam a dignidade do matrimónio entre homem e mulher.
No dia seguinte, quinta-feira última, àquelas declarações do Papa, a Igreja Católica em Portugal perdia mais uma batalha. Também se poderá dizer que ganhou, porque não é cúmplice com a decisão do Governo português que aprovou, em Conselho de Ministros, a proposta de lei que legaliza o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. A proposta será entregue, até final do mês corrente, na Assembleia da República, para ser discutida em Janeiro. Prevê-se que a aprovação esteja garantida, contando com os votos do PS, do PCP e, se calhar, do Bloco de Esquerda.
Pedro Silva Pereira, porta-voz do Governo, diz que a intenção é acabar com uma "discriminação social", eliminando as barreiras jurídicas que impedem o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, e falou num "grande avanço na sociedade portuguesa". Considerou ainda que o tema foi já "largamente discutido" e que o Governo tem "legitimidade democrática" para legislar sobre a mesma, excluindo a hipótese de um referendo ou de qualquer "perturbação social".
O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, padre Manuel Morujão, entende que a decisão governamental se deve a uma "certa engenharia ideológica" para reinventar "uma estrutura milenária que deve ser melhorada e actualizada, mas mantida na sua identidade estrutural". Em declarações à "Ecclesia", considera que a decisão do Governo terá "graves consequências", porque "a família fica afectada quando se tomam decisões que alteram a sua estrutura básica", promovendo "um tipo de casamento que não é autêntico e genuíno".
Os bispos já tinham manifestado a sua "rejeição" face aos "projectos para legalizar as uniões entre pessoas homossexuais, concedendo-lhes o estatuto de casamento". Afirmam respeito pelos homossexuais, mas essa compreensão "não pode reverter na desestruturação da célula base da sociedade, que é a família baseada no verdadeiro casamento".