Os casamentos crescem pelo quarto ano consecutivo, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE): em 2018 registaram-se 34 637 enlaces, mais 1003 do que em 2017 (33 634) e um valor semelhante ao de há sete anos.
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Parece estar a ficar para trás o ano negro de 2014, o pior de sempre em número de uniões em Portugal, quando os casamentos caíram para a casa dos 31 mil. O adiamento da cerimónia por causa da crise, os segundos e terceiros casamentos, a imigração e os estrangeiros que escolhem Portugal para casar (ler texto ao lado) serão variáveis a considerar nesta fase animada.
34637 casamentos em 2018
Apesar de ser cedo para analisar o que se passou em termos sociais, Filomena Mendes, demógrafa, alerta, desde logo, para duas possibilidades: "Será que este número se deve ao crescendo dos primeiros ou dos segundos casamentos?". Não foram apurados elementos detalhados para 2018 a esse respeito, mas, tendo em conta o que sucedeu em anos anteriores, tem havido um crescendo de segundos e terceiros casamentos.
Os primeiros casamentos continuam a ser dominantes, é certo, mas perdem protagonismo. São cada vez mais os que vão além das primeiras núpcias. Os segundos, terceiros e outros casamentos correspondiam a 27,5% do total em 2013 e passaram para 31,5% em 2017.
De forma genérica, Filomena Mendes está convencida de que este crescendo está a refletir o adiamento imposto pelas dificuldades do pico da crise. "Se vivemos numa situação de desemprego - e o desemprego jovem atingiu proporções elevadas - é natural que não se pense casar". "Há quem tenha adiado para os anos seguintes", garante.
A demógrafa Maria João Valente Rosa partilha esta ideia. "Estaremos a assistir ao efeito compensação. Os que não aconteceram na altura da crise, que ficaram congelados à espera de melhores dias, realizaram-se anos depois".
Contributo da imigração
Por outro lado, "a crise terá transformado as mentalidades, nomeadamente a tabela de prioridades". "A visão consumista desvaneceu-se e começou a equacionar-se viver com menos e constituir família mais cedo", diz Filomena Mendes. As decisões baseiam-se sobretudo em experiências anteriores, enquadra Filomena Mendes, e, neste caso, a crise pode ter feito com que algumas pessoas tenham voltado a valorizar a família, por que se apoiou nela em momento de dificuldade.
Maria João Valente Rosa - que, cautelosa, considera que é preciso esperar para falar em tendência de crescendo de casamentos - aponta ainda o contributo da imigração. "Houve um aumento de imigrantes permanentes (eram 19 500 em 2014 e 37 000 em 2017), que inclui estrangeiros e também portugueses regressados", diz.
"O país ganhou atratividade, em vez de ser um país de repulsa, o que tem muitos efeitos em diversas áreas da sociedade". Os casamentos dos estrangeiros terão aumentado também por isso, ainda que não em peso suficiente para reconfigurar o montante geral, conclui.