A coordenadora do BE considerou esta terça-feira inaceitável que o primeiro-ministro acuse comunistas e bloquistas por se juntarem à direita se chumbarem o Orçamento, afirmando que é o PS que "não negoceia", e rejeitou um país em duodécimos.
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"O que eu acho inaceitável é o primeiro-ministro dizer uma coisa como: se PCP e Bloco se juntarem à direita. Mas agora cada vez que o PS não negoceia acha que a esquerda se junta à direita? O que é isto? Isto é inaceitável em democracia", afirmou hoje, em entrevista ao Observador, Catarina Martins.
No sábado, num encontro digital promovido pelo PS, António Costa avisou que o próximo Orçamento do Estado para 2021 (OE2021) "só chumba se BE e PCP somarem os seus votos à direita" e disse ter dificuldade em perceber como é que a esquerda não apoia este documento.
Questionada sobre a possibilidade de o país ter de ser governado em duodécimos num cenário de chumbo do OE2021, a líder bloquista começou por sublinhar que o primeiro-ministro já referiu "que o país em duodécimos não seria uma crise política".
Catarina Martins afirmou em seguida esperar que António Costa "não queira duodécimos porque aquilo que o país precisa é de um Orçamento do Estado que responda à crise" e que é sobre isso que o "BE está muito concentrado".
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"Se não existir um orçamento o Governo pode apresentar outro", defendeu, considerando ser uma "irresponsabilidade deitar a toalha ao chão".
Na perspetiva de Catarina Martins, "há uma forma terrível de fazer política nos momentos difíceis" que é todos começarem "a arranjar desculpas para falhar".
"O Bloco de Esquerda não arranjará desculpas para falhar. Espero que não seja isso [que o PM quer]. Espero que queira mesmo um Orçamento do Estado. É o que o BE quer", respondeu.
A líder do BE foi perentória ao afirmar que "se não houver um orçamento que garanta o acesso à saúde da população portuguesa e que não garanta a proteção social de quem perdeu tudo com a crise não serve ao país, mas o que é preciso fazer é outro".
Interrogada sobre qual a relação entre socialistas e bloquistas nesta fase, Catarina Martins assumiu que "as tensões existiram sempre".
"O Bloco de Esquerda nunca mudou um sentido de voto depois de ter feito um acordo com o Governo sobre uma matéria tão fundamental como a matéria orçamental", assegurou, quando confrontada com o facto de António Costa sempre ter dito que "com o PCP bastava um aperto de mão".
Reiterando a ideia de que a proposta orçamental do Governo, "tal como está é uma má proposta" e não se trata de "uma questão de insuficiência", para Catarina Martins a solução para este problema é seriedade e trabalho para se obter um OE2021 "que responda ao país", sendo essa "a única escolha responsável numa democracia".
O primeiro-ministro, António Costa, reúne-se hoje, em São Bento, com o BE, PCP e PAN para procurar um acordo para a viabilização da proposta do Governo de OE2021, tendo na quarta-feira um encontro com o PEV, outro dos parceiros parlamentares do PS desde novembro de 2015.