Cartaz que recorda abusos sexuais na Igreja, instalado em Oeiras a propósito da realização da Jornada Mundial da Juventude, foi removido por ordem da Câmara Municipal de Oeiras, por ser "publicidade ilegal". Grupo responsável fala em "censura" e avalia recurso à via judicial.
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Um dos outdoors que lembram as conclusões do relatório da comissão independente sobre os abusos sexuais de crianças na Igreja Católica foi removido, no início da tarde de quarta-feira, pela Câmara Municipal de Oeiras.
Telma Tavares, designer e autora do cartaz, partilhou no Twitter (agora rebatizado "X") uma imagem que mostra o outdoor instalado em Algés coberto a preto. "Censura em Algés, após quase 50 anos do 25 de abril. Luto pela liberdade de expressão das +4800 vítimas, por um memorial que erguemos para que ninguém se esqueça delas. Não esquecemos", escreveu.
Contactada pelo JN, a Câmara de Oeiras indicou apenas, numa resposta escrita, que, no Município, "toda a publicidade ilegal é retirada, neste e em todos os casos".
O grupo "This Is Our Memorial", responsável pela iniciativa de instalar os outdoors, repudia a "decisão ilegal e autoritária da Câmara de Oeiras de mandar retirar o cartaz de cariz político - e não de publicidade, como erradamente comunicaram aos media", assegurando que a legalidade foi respeitada.
"A retirada do cartaz viola injustificadamente o direito à liberdade de expressão. O cartaz não colocou minimamente em causa a realização da JMJ, nem tem um cariz ofensivo. Ao invés, visa simplesmente chamar à atenção dos peregrinos e demais cidadãos para o escândalo de abusos sexuais de menores praticados durante décadas por membros da Igreja, tal como recentemente reportado por uma Comissão independente", pode ler-se num comunicado emitido pelo grupo, que está a analisar o recurso à via judicial, em resposta à "censura ilegal" da Câmara de Oeiras.
Três cartazes foram instalados durante a madrugada em Loures, Algés (Oeiras) e na Alameda, em Lisboa, na sequência de uma recolha de fundos online organizada por um grupo de cidadãos que quis lembrar o escândalo de abusos sexuais que este ano abalou a Igreja e o país. Nos outdoors em causa, lê-se a frase "Mais de 4800 crianças abusadas pela Igreja católica em Portugal", em inglês, ilustrada por 4800 pontos que representam cada uma das vítimas sinalizadas pelo relatório da comissão independente que investigou os casos.