Centenas de reformados e aposentados concentraram-se, esta terça-feira, em diversos pontos do país para exigir o aumento dos salários e pensões como medidas para combater a inflação. Do Porto a Lisboa, foi a primeira de muitas iniciativas, que vão durar até julho, garantiu Isabel Camarinha, secretária-geral da CGTP, em declarações ao JN, na concentração em frente à Segurança Social, em Lisboa.
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A manifestação decorreu, simultaneamente, em várias cidades do país, incluindo Porto, Coimbra, Faro e Évora.
Estas ações de rua tornam-se mais urgentes devido à inflação, disse Isabel Camarinha. Por isso, a CGTP vai organizar greves, paralisações e concentrações a partir de 27 de maio, dia da votação final do OE, e que vão decorrer até julho. Estas iniciativas vão culminar numa ação nacional em Lisboa, no início de julho, e podem prosseguir caso as suas reivindicações não sejam ouvidas, alertou.
O anúncio já tinha sido feito no 1º de maio: a CGTP-IN vai mobilizar diversas ações nas ruas, que, sabemos agora, vão durar até julho. "Se não formos ouvidos, teremos de continuar", alertou Isabel Quintas, presidente da assembleia geral da MURPI.
Em Lisboa, a concentração juntou mais de 500 pessoas, reformados e pensionistas, que marcharam desde o Campo Pequeno até à sede da Segurança Social, na Avenida de Berna.
Em passo lento, com faixas e cartazes da MURPI (Confederação Nacional De Reformados Pensionistas e Idosos), as palavras de ordem exigiam o aumento dos salários, a luta pela paz, o direito à segurança social e o aumento mínimo de 20 euros em todas as pensões. "Ser reformado é um direito, exigimos mais respeito", ouvia-se. A manifestação foi organizada pela Inter-Reformados - organização específica da CGTP-IN - e pela MURPI.
Em frente ao edifício, os gritos de ordem intensificaram: "Segurança social é um direito universal". Isabel Quintas, presidente da assembleia geral da MURPI, leu a resolução - aprovada por unanimidade pelos presentes na concentração -, que classifica como insuficiente a proposta presente no Orçamento do Estado que prevê o aumento de 10 euros nas pensões até 1108 euros.
"Estes trabalhadores de uma vida inteira não podem, agora, ficar ainda mais pobres. Nós já temos um número excessivo de reformados e pensionistas que são pobres", disse Isabel Camarinha, ao JN.
Manuel Balala, 77 anos, era técnico de higiene e segurança no trabalho e está aposentado há 12 anos. Ao JN, afirma que os pensionistas e reformados não aguentam a escalada de preços se as pensões não subirem também. E mesmo que subam, se for pouco, a inflação anula o aumento, disse. "Nós não queremos ser ricos, queremos viver condignamente", afirmou.
Quanto às propostas que têm sido anunciadas, Manuel Balala prefere esperar para ver os efeitos reais das medidas tomadas: "Uma coisa é o que se diz, outra coisa é o que se faz. Pode-se prometer a lua e, depois, nem sequer se tem a terra", atirou. "Falta dar dignidade a este pessoal todo", dando "a volta às pensões".
Concentração reuniu milhares, no Porto
Do Largo da Casa da Música até à Segurança Social, na Rua António Patrício, no Porto, ouviram-se pedidos de ajuda de milhares de idosos que lutam contra o aumento do custo de vida e por melhores serviços públicos de saúde.
Os manifestantes pedem ajuda, persistência nos aumentos dos salários e das pensões. Falam em "jornada de luta, que continua e que continuará" e pedem para colocarem fim às desigualdades.
Maria do Carmo, uma manifestante solidária à causa, disse, ao JN, que a manifestação se devia à falta de preocupação do Governo em relação aos que mais necessitam.
"Eu reformei-me com um vencimento e foi-me retirado e não foi reposto. Retirarem o que já tivemos por causa da situação económica do país não faz sentido. Só inventam desculpas para tirarem o dinheiro que é nosso. Estou pior do que estava em 2004. O aumento do custo de vida tem vindo a piorar e, para nós, que trabalhamos 40 ou 50 anos da nossa vida, não faz sentido, fará para os mais novos".
Ao marchar até à Segurança Social, os manifestantes gritavam palavras de paz, indignação e frustração - "Guerra não! Paz sim!"; "Para o país avançar, os salários aumentar"; "Melhores salários! Melhores pensões"; 40 anos a trabalhar, direito a reformar"; "O custo de vida aumenta, o povo não aguenta".
"Hoje é uma manifestação importante, com idosos reformados e pensionistas que veem um aumento brutal no custo de vida e tiveram necessidade de vir para a rua manifestarem-se por melhores condições de reforma e de saúde. É penoso ouvir pessoas que dedicaram 50 anos ao trabalho público sentirem dificuldades de ter uma reforma digna. A grande maioria dos reformados está longe de atingir uma reforma digna: recebem 300, 400 ou 500 euros de reforma, tendo as suas vidas para sustentar, os seus medicamentos para comprar, energia e alimentação para pagar. Temos aqui centenas de reformados que vêm exigir melhores condições", explicou Tiago Oliveira, coordenador da União de Sindicatos do Porto, ao JN.
O documento, com as exigências, aprovado por unanimidade, foi entregue, no fim da manifestação à Segurança Social, e será entregue na Assembleia da República.
