A proposta de criação do Colégio de Especialidade de Medicina de Urgência foi chumbada, esta segunda-feira, pela Assembleia dos Representantes da Ordem dos Médicos. Para dezenas de atuais e antigos diretores de serviços de urgência do país, a nova especialidade poderia ser uma das soluções para resolver as falhas da rede hospitalar de urgência.
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A proposta foi chumbada com 51 votos contra e 21 votos a favor. A Assembleia de Representantes da Ordem dos Médicos (OM), que é composta por membros eleitos e por presidentes dos conselhos sub-regionais e dos conselhos médicos das regiões autónomas, reuniu esta segunda-feira de manhã e não deu "luz verde" à criação da especialidade de Medicina de Urgência, uma proposta em discussão há vários anos.
Nas últimas semanas, vários serviços de urgência sobretudo da região de Lisboa e Vale do Tejo têm registado constrangimentos e tempos de espera muito elevados. A situação levou, inclusive, Marcelo Rebelo de Sousa a anunciar que na terça ou quarta-feira irá deslocar-se a vários hospitais para se inteirar dos problemas.
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"Tenciono, nos próximos dias e próximas semanas, ir ver nos locais, desde que isso não prejudique os serviços de saúde, a evolução dos acontecimentos", revelou o presidente da República, aos jornalistas, em Ourém, à margem de uma visita a uma escola secundária do concelho.
Sensatez e desilusão
Ao JN, a presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), Lélita Santos, considera que a decisão da Assembleia de Representantes da OM foi "sensata". "Eu já esperava que isto fosse acontecer, porque é a segunda vez que esta proposta é chumbada", disse. Para a responsável da SPMI, há uma "necessidade de reorganizar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), não é preciso criar uma especialidade nova", acrescenta.
Lélita Santos defendeu ainda que "mais médicos em Medicina Interna" seria uma das soluções para resolver os constrangimentos nas urgências, uma vez que são clínicos capazes de dar um "suporte geral" aos vários tipos de situações e de doentes.
Por outro lado, Adelina Pereira, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina de Urgência e Emergência (SPMUE), revela estar "desiludida" com a decisão. Para a médica, as vagas por preencher na Medicina Interna, que "foi a principal opositora", deveriam ser motivo de reflexão. "Há provas dadas em outros países da importância da especialidade de Medicina de Urgência na constituição e na formação das equipas", justificou ao JN.
"Obviamente que a especialidade não vem resolver os problemas, mas a urgência é o único serviço clínico onde se pode trabalhar sem formação específica", apontou. A responsável da SPMUE reafirmou que não vai "desistir" de promover e incentivar a futura criação da especialidade de Medicina de Urgência.
O ministro da Saúde afirmou esta segunda-feira, à saída da apresentação da direção executiva do SNS, que o "chumbo" era uma "decisão da Ordem dos Médicos", confirmando a intenção de "encontrar outro modelo de organização das urgências". Já o bastonário Miguel Guimarães referiu que a criação da especialidade de Medicina de Urgência é, "para já", um "assunto encerrado".
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"Eixo fundamental"
Na semana passada, 56 antigos e atuais diretores de serviços de urgência defenderam num manifesto a necessidade da criação da especialidade de Medicina de Urgência, com vista a fazer face às "enormes insuficiências" da rede hospitalar. Há poucos dias foi a vez da presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna considerar que a proposta não era "oportuna". "Achamos que primeiro temos de organizar ou reorganizar o Serviço Nacional de Saúde (SNS)", revelou então à agência Lusa.
A discordância da SPMI levou a Sociedade Portuguesa de Medicina de Urgência e Emergência a enviar uma "mensagem de tranquilidade" a Lélita Santos. A nova especialidade iria contribuir para a "gestão de serviços de urgência de norte a sul do país e regiões autónomas, permitindo a constituição de quadros médicos próprios, com formação de excelência, que irão exercer lado a lado com as demais especialidades já existentes", apontou a presidente da SPMUE, na carta que a Lusa teve acesso.
Miguel Guimarães já se mostrou favorável à criação da especialidade de Medicina de Urgência, mas salientou que o surgimento de um novo Colégio não resolveria os problemas dos hospitais do SNS. Também o diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, defendeu que a nova especialidade iria constituir "um eixo fundamental na estratégia delineada" para aquela área da Medicina.