Estudos recentes apontam que níveis adequados não só reduzem risco de contrair o novo coronavírus como de desenvolver complicações. Confinamento ajudou a aumentar procura.
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Só até setembro, foram vendidas nas farmácias mais de 60 mil embalagens de suplementos de vitamina D e quase 18 mil unidades de multivitamínicos que contêm a vitamina do sol. Os números ultrapassam largamente os dos últimos anos e foi durante o confinamento que as vendas foram mais expressivas. Esta segunda-feira comemora-se o Dia Mundial da Vitamina D.
Os portugueses já gastaram mais de um milhão de euros a comprar suplementos com vitamina D este ano, segundo dados do Centro de Estudos e Avaliação em Saúde da Associação Nacional das Farmácias. É o valor mais alto desde 2017. E foi no segundo trimestre - que coincidiu com o confinamento do país - que se bateu o recorde deste ano de vendas nas farmácias: mais de 33 mil embalagens.
Preços estão a subir
Se compararmos com o mesmo período de 2019, o aumento é de 143%. A procura é tanta que o preço está a subir. Estes suplementos custavam, em média, 11,25 euros no ano passado; em 2020, o preço médio está quase nos 13 euros.
Além do confinamento, estudos recentes poderão explicar a corrida à suplementação. As investigações apontam todas no mesmo sentido: esta vitamina não só reduz o risco de contrair o novo coronavírus, como de desenvolver complicações em caso de infeção.
Um teste piloto feito por investigadores do Hospital Universitário Reina Sofía, em Espanha, foi o que mostrou, de forma mais evidente, que a vitamina D pode contribuir para a recuperação da covid-19.
O estudo, publicado em outubro no "Journal of Steroid Biochemistry and Molecular Biology", dividiu em dois um grupo de 76 doentes hospitalizados com SARS-CoV-2. Em 50 foi administrada vitamina D, em 26 não. Do primeiro grupo, apenas um doente foi admitido na Unidade de Cuidados Intensivos e nenhum morreu. Do segundo, 13 deram entrada na UCI e dois morreram.
O reumatologista José Pereira da Silva, que coordenou um estudo que concluiu que 66% dos adultos portugueses têm insuficiência de vitamina D, não se surpreende. "A vitamina D é capaz de ajudar o organismo a prevenir infeções e, simultaneamente, é muito equilibrada ao evitar que o sistema imunológico entre em velocidade excessiva".
Significa que "esta molécula diminui a tendência do organismo em exagerar na defesa contra a infeção". "Isto é algo que acontece em muitas infeções em que o organismo reage tão fortemente para matar a infeção que acaba por matar o hospedeiro. É isso que acontece com a covid. As pneumonias não são causadas pelo vírus, mas pelo organismo a tentar combater o vírus".
Pereira da Silva diz que Portugal precisa de agir "para evitar a tendência da falta de vitamina D na população, garantindo a racionalidade, quer no uso quer nos preços". E defende "uma política de saúde pública para suplementar todas as pessoas com mais de 65 anos, visto que os idosos têm menos vitamina D e acumulam mais doenças".