Convenção liberal arranca, este sábado, e elege líder no domingo. Politólogos admitem futura "geringonça de Direita", que Rui Rocha rejeita. Carla Castro e José Cardoso não fecham porta, com condições.
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Surgiu no final de 2017. Dois anos depois entrou no Parlamento. E, em 2022, elegeu oito deputados. Ao sexto ano de existência, a IL prepara-se para eleger o quarto líder, na convenção deste fim de semana. Esta terá quase o dobro dos participantes da última: em 2021 foram 1200, agora serão 2327 - mais de um terço dos seis mil militantes.
Alcançada a afirmação, o dilema é o que fará o partido quando se colocar a hipótese de um Governo de Direita: o candidato Rui Rocha recusa associar-se ao Chega, mas Carla Castro e José Cardoso admitem repetir a solução dos Açores.
António Costa Pinto e José Adelino Maltez, politólogos ouvidos pelo JN, não descartam a possibilidade de uma futura "geringonça de Direita". Nas regionais de 2020 dos Açores, recorde-se, PSD, IL, Chega e CDS uniram-se para afastar o PS.
Adelino Maltez admite que o regresso da Direita ao poder poderá ocorrer "hipocritamente, tipo geringonça" - ou seja, com IL e Chega a só assinarem acordos com o PSD e não entre si. Apesar das cautelas, Costa Pinto também não rejeita um "acordo parlamentar".
"Dependentes do PSD"
Para este politólogo, a saída de João Cotrim Figueiredo da liderança da IL não prejudicará o partido. "Um eleitorado mais jovem e educado não vota pelo líder, vota pela mensagem", frisa.
Assim, no entender de Costa Pinto, a "melhor estratégia" é Cotrim "sair agora", durante a maioria absoluta, para dar palco a outras figuras. Maltez defende que o perfil do líder cessante era uma "vulnerabilidade" para a IL, aproveitada pelo primeiro-ministro para rotular os liberais como "queques".
Costa Pinto explica o crescimento da IL com o facto de o partido ter "aproveitado uma estrutura de oportunidade à Direita", com a descida do PSD. Destaca a implantação da IL no Norte e entre os jovens urbanos.
No entanto, apesar de "alguma consolidação", o politólogo refere que o sucesso do partido continua dependente das flutuações do PSD. A juntar a isso, há ainda o "estigma" de os liberais representarem uma fatia "pequena" da sociedade.
Maltez concorda que IL e Chega estão "dependentes do que o PSD mostrar", sendo que os liberais "correm mais riscos" de regredir. O bipartidarismo é, pois, o "inimigo principal" da IL, em Espanha, recorda, o liberal Ciudadanos esfumou-se.
Costa Pinto frisa que, mais do que expor fraturas, a convenção da IL servirá para "consolidar" o partido. Com efeito, os candidatos têm prioridades comuns: ao JN, todos vincaram a necessidade de tornar a IL mais próxima dos cidadãos e mais abrangente nos temas.
A maior diferença está na abordagem ao Chega. Rui Rocha garante que não entrará "em nenhuma solução de Governo" que envolva o partido. Com ele, não teria havido acordo nos Açores.
Os outros candidatos não fecham essa porta. Carla Castro diz que os "princípios" vêm antes do "poder", assegurando que "não há acordos com o Chega" e que levará sempre um "caderno de encargos" para negociar futuros governos. Mas nesse cenário, caso o Chega faça o mesmo com o PSD, poderá haver geringonça.
Para José Cardoso, a solução nos Açores foi "uma boa aposta". Alegando que um partido "muito puro" nunca será "parte da solução", diz que é o PSD que "tem de explicar" esse acordo. Carla Castro e José Cardoso prometem um partido "de Governo", Rui Rocha não o faz mas aponta a 15% nas legislativas.
Todos concordam: partido tem de falar de mais temas
Rui Rocha diz querer uma IL "mais descentralizada" através do reforço dos núcleos, defendendo que o partido se centre mais na habitação, transportes, justiça e ambiente. Carla Castro compromete-se a "estar mais no terreno" e a falar para todos, incluindo classes mais baixas, funcionários públicos e territórios do interior. José Cardoso quer ir além dos temas económicos e advoga um discurso "de proximidade".
Lisboa e Porto
O eleitorado da IL vive sobretudo nas grandes cidades: dos oito deputados, metade foram eleitos por Lisboa e dois pelo Porto. Embora tenha tido 4,91% a nível nacional, o partido conseguiu resultados melhores tanto na Invicta (7,81%) como na capital (10,59%). É a terceira força em ambas.
Mais poder de compra
O sucesso tem sido maior em meios mais abastados: a freguesia com o melhor resultado no país foi a das Avenidas Novas, em Lisboa (16,6%); no Porto, foi em Aldoar, Foz e Nevogilde (12,5%). O pior resultado na capital foi em Marvila (4,03%) e na Invicta ocorreu em Campanhã (4,2%).
Partido mais popular
Cotrim anunciou a saída da liderança em outubro, dizendo que o partido precisa de uma atitude "mais combativa" e "popular" e que a maioria absoluta colocava novos desafios. António Costa acusou a IL de querer entrar num "lamaçal" para "competir com o Chega no estilo de truculência".
Cartazes irreverentes
Logo na primeira campanha legislativa, em 2019, a IL sobressaiu pela irreverência. No Porto, junto a um cartaz do PS que dizia "Cumprimos", colocou outro onde se lia "Com primos", em referência ao "Familygate". Um outro, mais recente, criticava a solução para a TAP, apresentando uma caricatura gigante de Costa vestido de piloto e com a frase "Apertem ainda mais o cinto". A IL também está muito presente nas redes sociais.