O presidente cessante da IL considerou, este sábado, que o Governo está "em desagregação". João Cotrim Figueiredo, que deixa a liderança no final da convenção deste fim de semana, aludiu ao facto de Pedro Nuno Santos ter admitido que sabia da indemnização paga à ex-administradora da TAP: "Quinze dias depois [de a IL ter apresentado uma moção de censura], talvez as pessoas percebam melhor o que se está a passar".
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"Quando apresentámos a moção de censura, a 5 de janeiro, as pessoas achavam que estávamos a exagerar", afirmou o líder liberal, em Lisboa, à entrada para a convenção do partido. Cotrim frisou que, tal como a IL tinha argumentado na altura, já não estão em causa meras "divergências políticas" com o PS, mas sim algo mais profundo.
O líder liberal explicou que a moção foi apresentada devido "uma questão de saúde democrática de um Governo que estava em desagregação. Quinze dias depois, talvez as pessoas percebam melhor o que se está a passar", atirou.
No entanto, embora criticando a "leviandade" com que o ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, reconheceu ter sabido da indemnização paga a Alexandra Reis, Cotrim Figueiredo preferiu centrar as críticas no primeiro-ministro. No entender do liberal, António Costa deve ser responsabilizado por desconhecer "o que se passava com um dos seus principais ministros" e, também, com a Câmara de Lisboa.
A referência à autarquia da capital serviu para apontar a mira a Fernando Medina, antigo presidente da Câmara e agora ministro das Finanças. Este também está a braços com uma polémica a envolver adjudicações diretas, que terão ocorrido quando ocupava o cargo anterior. "Neste momento, os ministros mais fragilizados são os ministros da Defesa e das Finanças", atacou Cotrim.
Face a tamanho "nível de desagregação", o presidente da IL afirmou que lhe "custa a entender como é que as pessoas não somam dois mais dois" e percebem que, com o PS no Governo, "cada dia que passa é um dia que prejudica Portugal".
Questionado sobre se existe hoje alternativa à Direita, disse estar convicto de que as pessoas "se mobilizam na altura em que é necessário", garantindo que a IL estará sempre "disponível para soluções" que tirem o PS do poder.
Partido precisa de "novo ímpeto"
No dia em que fará o discurso de despedida da liderança - no domingo é escolhido o sucessor -, Cotrim Figueiredo repetiu os argumentos que tinha dado em outubro, ao anunciar a intenção de deixar o cargo: a IL "precisa de um novo ímpeto" e de uma estratégia "mais abrangente" e "combativa".
No discurso, irá abordar os aspetos que, a seu ver, "conduziram ao sucesso da IL e que era importante garantir na fase seguinte", independentemente de o novo líder ser Rui Rocha, Carla Castro ou José Cardoso, referiu. Também rejeitou a ideia de que a IL possa vir a desagregar-se devido às lutas internas: "A partir de segunda-feira há um novo partido", assegurou.
Cotrim Figueiredo também desvalorizou algumas críticas que tem recebido, considerando que estas vêm de pessoas que "ficaram desafetadas com o seu futuro dentro do partido". Confrontado com as palavras de Tiago Mayan, ex-candidato presidencial apoiado pela IL - que comparou a direção do partido ao comité central do PCP -, atirou: "até poderia ser ofensivo senão tivesse graça".
O líder da bancada da IL no Parlamento, Rodrigo Saraiva, chegou ao local ao lado de Cotrim. "Sei bem aquilo que vou dizer ao grupo parlamentar. O resultado que sairá daqui não será indiferente, mas reservo isso, obviamente, para a reunião com os deputados", afirmou.