Costa aconselha PCP a mudar discurso para que Esquerda "não continue a definhar"
O primeiro-ministro demissionário aconselhou o PCP a não continuar a eleger o PS como seu "principal inimigo". No entender de António Costa, quanto mais os comunistas equiparam os socialistas aos partidos de Direita, "menos os portugueses acreditam no PCP". Antes, mostrou-se confiante numa vitória socialista nas urnas.
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Esta segunda-feira, no debate preparatório do Conselho Europeu, no Parlamento, Costa começou por defender o PS e os partidos da ex-geringonça dos ataques da Direita. Catarina Rocha Ferreira, do PSD, e João Cotrim Figueiredo, da IL, tinham acusado os socialistas de se prepararem para voltar a correr "para os braços" de PCP e BE. Cotrim frisou que estes partidos são anti-europeístas.
Costa respondeu, lembrando que os acordos celebrados à Esquerda em 2015 deixaram de fora as questões do âmbito da política externa, nas quais havia maiores divisões: "Creio que nenhum deles [BE, PCP e PEV] sacrificou a identidade do seu ponto de vista sobre a política europeia, e o Governo não sacrificou um milímetro a visão que tinha sobre a postura europeia de Portugal".
Pouco depois de ter feito a defesa da memória da gerongonça, e ao ouvir a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, acusar o PS de estar alinhado com a Direita, o primeiro-ministro recomendou aos comunistas que "reflitam bem" sobre se devem continuar a adotar essa estratégia.
O "grande erro" do PCP e a futura "vitória do PS"
"De cada vez que o PCP diz que nós somos iguais à Direita há menos portugueses a compreenderem o PCP", avisou Costa. No seu entender, essa postura é "um grande erro para o PCP, um problema para a democracia portuguesa e um problema para o conjunto da Esquerda portuguesa".
"É importante que as outras correntes da Esquerda não continuem a definhar e sejam capazes de se afirmar", prosseguiu o primeiro-ministro, estendendo a mão ao PCP para uma nova geringonça. Dito isto, insistiu no reparo: "Nunca se voltarão a afirmar continuando a eleger o PS como inimigo principal".
De olhos postos nas eleições, Costa alegou que o país conhece a "profunda diferença" entre o PS e a Direita. Batendo na madeira ao colocar a hipótese de Portugal voltar a ter um Governo PSD, sustentou que um regresso da Direita ao poder significará "corte de salários e de pensões"; ao contrário, frisou que, com os Executivos PS, houve um aumento "de 62%" do salário mínimo e de "perto de 40%" no que toca ao salário médio, bem como várias subidas de pensões.
Antes, em resposta à social-democrata Catarina Rocha Ferreira, Costa mostrou-se confiante numa vitória do seu partido nas próximas eleições legislativas. Aludindo ao processo que levou à sua demissão, atirou: "Este ciclo político pode ter começado com uma derrota do PS, mas vai seguramente prosseguir com uma vitória do PS no próximo dia 10 de março". Foi muito aplaudido pela bancada socialista.
Este foi o último debate parlamentar a contar com a presença de Costa enquanto primeiro-ministro. De manhã, à CNN, o ainda chefe do Governo disse estar "magoado" com a queda do Executivo, desafiando a Justiça e o presidente da República a dizerem "se fariam o mesmo perante aquilo que sabem hoje".