O primeiro-ministro vai receber o líder da oposição e presidente do PSD, Luís Montenegro, na sua residência oficial, esta sexta-feira. Em cima da mesa deverá estar a solução para o novo aeroporto de Lisboa. Recorde-se que António Costa tinha-se comprometido a conversar com Montenegro para discutir a melhor solução, antes do polémico anúncio de Pedro Nuno Santos.
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"Como é sabido, agora, a liderança da oposição está em alteração e, neste momento, aguardo que no próximo mês tenhamos um novo líder da oposição para saber se o acordo é Montijo, se é Alcochete, ou qual é o acordo", disse Costa no final de um evento na Câmara do Comércio Luso Espanhola, a 3 de junho, intenção que acabaria por ser reafirmada durante um debate no Parlamento.
A 22 de junho, no primeiro debate de política geral da legislatura, Costa disse ao Parlamento que estava a aguardar "serenamente" que a nova liderança do PSD dissesse qual a sua posição para o novo aeroporto de Lisboa: "se é a posição de exigir a avaliação ambiental estratégica, se é a de retomar a decisão do Governo do doutor Pedro Passos Coelho, se é uma outra nova decisão de forma a que haja o consenso nacional suficiente", disse em resposta à líder da bancada comunista.
Costa justificava a sua posição pelo tempo que já se perdeu e pelo que não se pode vir a perder, argumentando que uma decisão estrutural teria de ter o envolvimento dos dois maiores partidos - posição reiterada mais do que uma vez e já conhecida.
"Confissão de incompetência"
Recém-empossado líder dos sociais-democratas, Luís Montenegro não demorou a reagir. Disse que ficou registada a "confissão de incompetência" do primeiro-ministro por não querer tomar uma decisão sozinho e por Costa ficar à espera que seja o PSD a "dar uma solução" para o novo aeroporto.
No fim de junho, dias antes do congresso do PSD, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, tomou as rédeas do processo e avançou com um despacho à revelia de Costa que apontava uma nova solução: numa primeira fase, avançar com obras no Montijo e mais tarde Alcochete. O país acordou na manhã seguinte com um duro comunicado do gabinete do promeiro-ministro, anunciando a imediata revogação desse despacho e desautorizando o ministro Pedro Nuno Santos. A decisão causou um novo mal estar nas relações entre os dois socialistas. Chegou-se, inclusive, a falar de demissão do ministro, que acabara por fazer um pedido de desculpas público.
PSD faz marcação cerrada
Além do incómodo no Governo, o caso serviu para dar ainda mais fôlego ao Congresso do PSD, em que muitos sociais-democratas fizeram marcação cerrada ao incidente e mantiveram os dois socialistas debaixo de fogo. Montenegro, que fez questão de dizer que não tinha sido informado da decisão de Pedro Nuno - afinal, ninguém tinha -, também não perdeu a oportunidade para criticar a atuação do Governo.
Na sua primeira intervenção do Congresso, admitiu falar com Costa sobre a solução mas considerou que o primeiro-ministro foi "fraco" e ficou com a "dignidade ferida". "A dignidade do primeiro-ministro está ferida de morte. Se isto é permitido, todos podem fazer o que apetecer", disse o social-democrata, procurando capitalizar o episódio de descoordenação e falta de autoridade no Governo.
Já em julho, na passada quarta-feira, em entrevista à CNN, o líder do PSD disse que irá transmitir em primeira mão a posição dos sociais-democratas sobre a solução do aeroporto de Lisboa no encontro com o primeiro-ministro.
"Uma coisa é dialogar com o maior partido da oposição, outra é deixar de decidir. Quem tem de decidir é o Governo e o primeiro-ministro. Era muito interessante discutir a opinião do PSD, mas temos de discutir a opinião do Governo", disse.
A posição do primeiro-ministro tem sido reiterada desde o mês passado. Costa quer um consenso maior entre a oposição - também com aval do presidente da República que na sequência da polémica pediu uma solução "rápida, consensual e consistente". Luís Montenegro tem demonstrado abertura para dialogar mas tem colocado a tónica e o ónus da responsabilidade da decisão sob o Governo.
O encontro entre os dois responsáveis políticos foi confirmado esta quinta-feira pelo gabinete do primeiro-ministro, quando revelou a agenda oficial de António Costa para amanhã. O encontro será às 10 horas na residência oficial em Lisboa.