Costa só vê dois cenários com programa da AD: ou "rombo nas contas" ou corte de rendimentos
O primeiro-ministro cessante alertou que o programa económico da AD terá uma de duas consequências: ou um "rombo nas contas públicas" - caso as reduções de impostos não sejam compensadas com outras taxas - ou um novo corte na despesa. Neste segundo caso, haverá corte de salários e pensões, garantiu António Costa.
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No último dia de campanha eleitoral, no tradicional almoço na cervejaria Trindade, em Lisboa, Costa acusou a Direita de propor um "choque fiscal" que, além de não ter "utilidade efetiva para 99% das empresas", ainda representará um "enorme prejuízo" para o país. Estimou que, em quatro anos, isso reduza a receita em 16 mil milhões de euros, ou seja, "o equivalente ao que o PRR trouxe à economia".
Assim, o ainda chefe do Governo enumerou aqueles que, no seu entender, são os únicos cenários possíveis caso a AD vença as eleições: "Ou este choque fiscal é uma mentira, ou é um rombo nas contas públicas, ou vem com outros aumentos de impostos escondidos para compensar esta reducão de impostos ou, então, é um pré-anúncio de um novo corte na despesa. E, com a DIreita, corte na despesa significa cortar salários e pensões", avisou, recebendo palmas.
Se a AD chegar ao poder e optar por este último caminho, Costa entende que a coligação terá de explicar "qual é a despesa que vai cortar". Frisou que "o país já não tem onde cortar na despesa" e que os portugueses não esquecem que, da última vez que estiveram no poder, PSD e CDS reduziram salários e pensões.
O "timoneiro" que aproveitará o trabalho feito e o "bónus" da AD às grandes empresas
Elogiando a capacidade de concretização de Pedro Nuno Santos - característica que a campanha socialista não se cansou de procurar realçar -, António Costa também lembrou alguns dos seus próprios louros: descreveu o seu sucessor como um "novo timoneiro" que dará um "novo impulso" à caminhada já feita pelos últimos Governos socialistas, que conseguiram dobrar o "Cabo das Tormentas".
Dizendo estar convicto de que o novo líder dará continuidade ao trabalho do Executivo que em breve cessará funções, o governante avisou contra um eventual triunfo da AD: "Não é tempo de parar o que estamos a fazer e o que está a acontecer".
Costa alertou ainda que, em 2002, o "choque fiscal" prometido pelo PSD de Durão Barroso resultou num aumento de 2% no IVA. "Os choques fiscais acabam sempre num grande aumento de impostos", argumentou, acusando ainda a AD de querer dar um "bónus" a grandes empresas que "não precisam de apoio social" para terem lucros avultados.
Pedro Nuno é a pessoa certa para executar um PRR que Direita quer "embrulhar"
Costa lembrou várias conquistas dos seus Executivos, desde o equilíbrio orçamental ao PRR. Sobre este segundo tema, levantou a hipótese de a Direita querer "embrulhar" a execução do programa, vincando também a importância de não entregar esse processo a partidos que sempre duvidaram dele e não mexeram "uma palha" em prol do seu sucesso.
Defendendo que "só o PS está em boas condições de executar o PRR", o primeiro-ministro argumentou que Pedro Nuno saberá executar o programa "melhor do que qualquer outro", por ter sido o responsável por "muitas obras". Em concreto, deu o exemplo das 32 mil casas que o agora líder socialista "pensou, planeou e decidiu construir" quando era ministro das Infraestruturas.
Costa abordou também o tema do aeroporto de Lisboa, que se discute "há 50 anos". Frisando que não se pode "perder mais tempo", acusou o PSD de não querer "respeitar" a recomendação da comissão técnica indepentente sobre a localização da obra.
Costa brinca com antiga zanga com Pedro Nuno a propósito do aeroporto
Aí chegado, fez uma piada, aludindo ao desentendimento que teve com Pedro Nuno quando, em 2022, este decidiu, unilateralmente, a localização do aeroporto - despacho que Costa revogaria: "O país já discutiu tanto [o aeroporto de Lisboa] que até eu e o Pedro Nuno Santos já discutimos entre nós o aeroporto", Ouviu palmas e alguns risos da plateia.
António Costa falou ainda de saúde para declarar que "quem quer mesmo salvar o SNS deve votar no PS", sob pena de que as reformas em curso sejam revertidas. Referiu-se à rede pública de saúde como uma "jóia da coroa" do país.
A fechar, o antigo secretário-geral realçou a importância de um primeiro-ministro aliar o "otimismo" à "prudência" nas previsões. Terminou com uma das suas frases mais recorrente - "Não podemos dar um passo maior do que a perna" - e terminou com uma nota indireta de esperança em Pedro Nuno Santos: "Melhor do que o PS, só mesmo o PS".