Um mercado gigante demasiado concentrado em quatro marcas, uma fábrica encerrada e uma taxa de amamentação baixíssima. São estes os três factos que explicam a crise do leite em pó nos Estados Unidos da América. Portugal até produz leite em pó, mas não de fórmula infantil. Ainda assim, a crise americana dificilmente atingirá o nosso país. As principais marcas vendidas em Portugal produzem na Europa.
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No que toca a leite em pó fórmula infantil, nos EUA quatro empresas - Abbott, Perrigo, Nestlé e Mead Johnson - controlam 90% do mercado. Com a pandemia, os bloqueios nas cadeias de abastecimento e a falta de mão-de-obra levavam a alguma escassez.
Em fevereiro, a Abbott anunciou a retirada de três das suas fórmulas do mercado (no top das mais utilizadas) a Similac, a Alimentum e a EleCare. A decisão foi tomada depois de quatro recém-nascidos, alimentados com aqueles leites, terem sido hospitalizados com uma infeção bacteriana rara. Dois bebés acabaram por morrer.
A fabricante deu início à recolha de produto e, depois de uma inspeção com "resultados chocantes", a U.S. Food and Drug Administration admitiu a relação com o consumo dos leites da Abbott e mandou fechar a maior fábrica de produção de fórmulas infantis da empresa no Michigan. A Abbott insiste que não há provas conclusivas, mas a verdade é que a bactéria foi encontrada na fábrica.
Com o produto a escassear, a corrida às prateleiras não tardou. Os retalhistas limitaram a três a quantidade de embalagens por cliente, mas, em menos de um mês, metade das reservas do país tinham-se esgotado. Para agravar a situação, a Abbott fornecia o leite a metade das crianças carenciadas, beneficiárias do Programa Especial de Nutrição Suplementar para Mulheres, Bebés e Crianças (WIC, na sigla inglesa), que por si só representa 50% das vendas de leite em pó norte-americanas.
Nos EUA, é preciso lembrar, as mães não têm direito a licença de maternidade e, por isso, a taxa de amamentação é de 43% (contra os 87% de Portugal) e três em cada quatro bebés bebem leite em pó.
A situação é de tal forma grave que Joe Biden foi obrigado a intervir: autorizou a importação de leite em pó infantil, ofereceu transporte, comprou toneladas à Alemanha e invocou a Lei de Produção de Defesa para impulsionar o fabrico.
Com a produção de leite de vaca a ultrapassar o consumo, Portugal até é produtor de leite em pó (36 mil toneladas em 2021), mas não de fórmula infantil (o primeiro é apenas leite de vaca desidratado, o segundo contém mais de 30 outros nutrientes). Ainda assim, o nosso leite para bebés provém exclusivamente da Europa (Espanha, França, Suíça, Irlanda) e praticamente não comercializamos marcas americanas.