O bispo emérito das Forças Armadas defende que os padres suspeitos de terem abusado sexualmente de menores sejam suspensos de funções de forma preventiva. A solução apontada por Januário Torgal Ferreira difere daquela que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) decidiu na sexta-feira, e que vai no sentido de colocar nas mãos dos bispos de cada diocese a decisão de afastar ou não os sacerdotes sobre os quais recaem suspeitas.
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"Se a suspeição tem fundamentos, imediatamente ele estava já suspenso. Eu suspendê-lo-ia durante o processo", afirmou D. Januário Torgal Ferreira, em entrevista à RTP. "Quem não deve não teme", acrescentou, concordando que a Igreja Católica deve ser "escrutinada".
O bispo reconheceu, ainda assim, que os processos canónicos contra os alegados abusadores exigem mais detalhes. No entanto, defendeu que também os bispos que ocultaram crimes deveriam retirar-se de funções.
"Eu não desconfio de uma estrutura diocesana. Mas, se me disserem que as vítimas estão desconfiadas, então que eu seja humilde", aconselhou, sustentando que as vítimas de abusos estão "acima do bom nome, das manias e das convicções intelectuais" dos bispos.
Bispos não estão a refletir o suficiente
Januário Torgal Ferreira esteve esta semana em Fátima, onde assistiu ao encontro da CEP com a comissão independente e, também, à assembleia plenária da referida estrutura da Igreja Católica. Saiu convencido de que os bispos não têm refletido o suficiente sobre o tema dos abusos.
Nós não estamos a devassar ninguém, eles [os padres abusadores] é que devassaram a vida mais íntima
"Como isto é uma questão nacional, pedi [na assembleia plenária] que nós discutíssemos. É tão natural... Nós não estamos a devassar ninguém, eles [os padres abusadores] é que devassaram a vida mais íntima", afirmou. Ainda assim, disse estar convencido de que os bispos não querem "empurrar com a barriga" este assunto.
Questionado sobre se as medidas da Igreja foram uma "mão cheia de quase nada", Januário Torgal Ferreira acabou por admitir que, para já, estas souberam a "poucochinho". No entanto, disse acreditar que só será assim "de momento".
Na entrevista, o bispo emérito das Forças Armadas recordou ainda que sempre apoiou a investigação dos abusos sexuais na Igreja. "Eu defendi sempre, desde o primeiro minuto, a comissão independente, contra muito boa gente. E da Igreja [também]", frisou.
Na sexta-feira, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, revelou ter entregue, a cada diocese, a lista dos nomes dos cerca de 100 padres alegadamente abusadores, que lhe foi facultada pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica. No entanto, anunciou que o afastamento de alegados padres abusadores de menores está nas mãos de cada bispo, entre outras medidas.
"Eu não posso tirar uma pessoa do ministério só porque chegou alguém que disse: 'este senhor abusou de alguém'. Mas quem foi que disse, em que lugar, onde? Tirar do ministério é uma coisa grave", realçou José Ornelas.