A data das europeias de 2024 poderá levar o PSD a atirar para o outono as diretas que, pelo calendário interno, terão que ocorrer em julho. A decisão ainda não está formalmente tomada, mas é consensual em todos os setores do partido, porque permitiria avaliar a liderança de Luís Montenegro com base em resultados obtidos nas urnas e faria com que as eleições internas permitissem escolher o presidente que irá conduzir o processo das autárquicas e das legislativas: ou seja, o candidato a primeiro-ministro.
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Nos últimos dias, as alas críticas da liderança de Luís Montenegro têm andado em sobressalto devido à possibilidade de as eleições diretas do próximo ano serem antecipadas para janeiro, o que faria com que Luís Montenegro pudesse ser reconduzido antes de se conhecer o resultado do partido nas europeias, que deverão ocorrer em junho.
"Seria incompreensível que a Comissão Política Nacional quisesse ir a votos sem ter um único ato eleitoral de âmbito nacional. A recandidatura de Luís Montenegro deve ter por base as provas dadas", sustentou, ao JN, um conselheiro nacional. "Seria um absurdo", acrescentou um ex-deputado, enquanto outro criticava o que seria "uma manobra inqualificável".
Até porque, o líder do PSD tem reafirmado a disponibilidade para colocar o lugar à disposição, caso não consiga, nas europeias, o resultado que tem prometido. "O primeiro objetivo: queremos ter mais votos do que qualquer outro partido e, em função disso, queremos reforçar a nossa representação no Parlamento Europeu. Farei o meu trabalho até à última gota de suor e de esforço que for capaz e responderei pelos resultados", reafirmou Montenegro, recentemente, perante a comunidade portuguesa na Suíça.
Ciclo das legislativas
Entre os críticos internos é consensual que as diretas, que deverão ocorrer em julho de 2024, sejam atiradas para setembro ou outubro, caso as europeias ocorram em junho. É que isso traria "tranquilidade" ao partido nas europeias, "daria tempo" para o surgimento de alternativas, faria com que a Direção "fosse avaliada com base em resultados eleitorais" e que o líder saído das diretas ganhasse um mandato para tratar das autárquicas e das legislativas de 2026. "No fundo, estaríamos já a escolher o candidato a primeiro-ministro", enfatiza-se.
A decisão ainda não está tomada, mas a medida é vista, também, com bons olhos pela Direção do PSD, porque a realização de diretas no outono de 2024 abriria "o ciclo das legislativas".
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Diretas antecipadas
Em 2021, as diretas do PSD realizaram-se a 27 de novembro, quando estavam previstas para janeiro, devido à antecipação das legislativas. O então líder, Rui Rio, opôs-se, mas não conseguiu evitar. Foi a votos contra o eurodeputado Paulo Rangel e ganhou por 52%. Mas acabou por se demitir por não ter sido capaz de impedir a maioria absoluta dos socialistas.
Posse a 3 de julho
Com a demissão de Rio, os sociais-democratas tiveram que voltar às urnas, seis meses depois: a 28 de maio. Luís Montenegro derrotou Jorge Moreira da Silva com 72,5%. Foi consagrado líder do PSD no congresso de 1, 2 e 3 de julho, no Porto. O que faz com que o mandato termine a 3 de julho de 2024.