Debate incendiado: Catarina critica encontros de Gouveia e Melo com Ventura e almirante reage com acusações de "marxismo"

Frente a frente pela primeira vez, Catarina Martins e Gouveia e Melo protagonizaram um dos debates mais tensos da campanha, com ataques diretos e clivagens profundas
Foto: Nuno Fox_DivulgaçãoSIC
No quarto debate presidencial, Catarina Martins estreou-se com confrontos diretos face a Henrique Gouveia e Melo, numa noite marcada por ataques frontais e divergências profundas. Lei laboral, saúde, democracia, habitação e Defesa alimentaram um dos duelos mais intensos da campanha.
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A estreia de Catarina Martins na maratona de debates presidenciais, na SIC, ficou marcada por um confronto vivo e direto com Henrique Gouveia e Melo, que participava no seu segundo debate depois do embate com Cotrim de Figueiredo. O almirante abriu hostilidades logo na primeira intervenção: "Temos um oceano de diferenças entre nós. A senhora deputada tem um pé aqui e outro em Bruxelas", afirmou, descrevendo a adversária como "uma declinação sofisticada do marxismo e do leninismo". Considerou-se, em contraste, "suprapartidário", defensor do mercado e da propriedade privada.
Catarina Martins reagiu de imediato: "Ninguém me diminui pelas escolhas que faço." E lançou a crítica que marcaria a primeira parte do debate: "Decidiu ir almoçar com Ventura a convite de um magnata. Isto sim é falta de independência. Não devia almoçar com estas pessoas."
A lei laboral acentuou as clivagens, sob moderação de Clara de Sousa. Gouveia e Melo recusou mexidas profundas: "Este código de trabalho foi mudado há dois anos. Se mexermos nos tempos de contrato, vai precarizar." Catarina descreveu o pacote em negociação como "gravíssimo", acusando o Governo de criar um mercado laboral "onde os jovens andam sempre de contrato em contrato" e onde trabalhadores estabilizados podem "ver o salário baixado porque o patrão quer".
A saúde manteve a tensão elevada. Para o almirante, "o problema não é falta de recursos, mas de organização interna", defendendo um "modelo híbrido" que inclua setor privado. Catarina rejeitou essa via: "Temos dado muito dinheiro aos privados e eles não têm feito nada de jeito." E lembrou a necessidade de reforçar carreiras, autonomia dos médicos e respostas comunitárias adequadas ao envelhecimento.
A democracia e a Justiça aqueceram ainda mais o debate. Gouveia e Melo avisou que há propostas que "não são benéficas para a democracia", numa referência indireta à extrema-direita, e criticou as escutas judiciais a políticos: "Construímos um sistema de vigilância que não está controlado." Catarina concordou que há riscos, mas destacou que o descrédito nasce da falta de soluções económicas: "Temos as casas mais inflacionadas da Europa. O descrédito é quando não há resposta."
A habitação trouxe mais confrontos, com o almirante a acusar o Bloco de ameaçar a propriedade privada. Catarina devolveu com ironia - "Catarina Martins, candidata presidencial, muito prazer" - e afirmou que o Estado não está a invadir a esfera privada, mas a tentar corrigir "preços absurdos".
Defesa e NATO elevam o tom das acusações
Foi no tema da Defesa que o debate entrou na fase mais explosiva. Gouveia e Melo acusou a candidata de ter contribuído para anos de desinvestimento: "Pertencemos à NATO e tem regras. Que eu saiba, não há guerra. A Europa não investiu na Defesa e estamos aqui. A senhora dizia que não devíamos investir. Tem culpas nisso também." Classificou mesmo a resposta de Catarina como "cínica", dizendo que ela "antes não defendia investimento na Defesa."
Catarina assumiu que se opôs a despesas militares no passado, mas justificou: "Foi no tempo do escândalo dos submarinos, marcado por corrupção - onde o senhor não teve qualquer envolvimento." E acrescentou: "Houve muito mais interesses da indústria de armamento e da corrupção do que interesses portugueses e da paz, que é o que nos deve mover."
Sobre a dissolução do Parlamento, ambos concordaram que é instrumento de recurso extremo, mas o almirante deixou mais um aviso: "Só o faria se um Governo extremista revertesse direitos constitucionais." Catarina criticou Marcelo por decisões "taticistas" e defendeu um uso mais contido, recordando Jorge Sampaio como exemplo equilibrado.
O debate encerrou com posições tão afastadas quanto no início. Catarina insistiu nas críticas à desigualdade social, na habitação e no reforço do SNS; Gouveia e Melo colocou ênfase na reorganização do Estado, disciplina institucional e defesa da economia de mercado. Um duelo tenso, direto e revelador, que reforçou a polarização de visões rumo às eleições.

