O debate parlamentar do "Estado da Nação", marcado para a tarde desta quinta-feira, não é ainda um duelo Sócrates-Passos Coelho, já que o líder do PSD não é deputado. Mas promete um duro confronto entre socialistas e social-democratas. Para marcar diferenças políticas.
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Os sintomas de que, após o acordo político em torno do novo PEC, os dois principais partidos seriam impelidos a marcar diferenças políticas tornaram-se mais perceptíveis nas últimas semanas. E culminaram com o não rotundo de Passos Coelho à reedição do Bloco Central, nas Jornadas Parlamentares.
A direcção social-democrata, cavalgando os sinais positivos emitidos pelas sondagens, matou de vez a aposta na aliança com o PS, que depois de ser defendida por socialistas como Jorge Sampaio ou Vera Jardim encontrou eco nas suas próprias fileiras, pela voz de Santana Lopes.
É assim em ambiente de separação de águas que se chega ao debate de fecho da legislatura. O PSD, que tratou de avisar que não viabilizará o Orçamento de Estado para 2011, caso inclua novos aumentos de impostos, usará o palco, na expressão de um dirigente do partido, para "construir uma alternativa, porque o PS está completamente perdido". Suportes do único Governo minoritário da Europa, os socialistas correm assim o risco de assumirem sozinhos as agruras da crise.
"O Parlamento é chamado a debater o Estado da Nação numa altura em que o mundo vive a maior crise económica desde a II Guerra Mundial". Se esta frase, com a qual Sócrates iniciou há um ano o seu discurso, voltar a ouvir-se hoje na Assembleia ninguém ficará surpreendido. Afinal, desde Julho de 2009 a situação só se agravou.
A previsível hegemonização do debate por parte de PS e PSD tenderá a empurrar os restantes partidos para uma posição completamente secundária. Embora não deixem de aproveitar a oportunidade para roubar ao PSD o monopólio da capitalização do descontentamento social.
BE e PCP tratarão de denunciar os efeitos do entendimento político entre as duas forças dominantes. Ao CDS, cabe fazer a quadratura do círculo: tem vindo a notar a "cumplicidade" do PSD no aumento de impostos, mas não pode comprometer a hipótese de ser, no futuro, seu parceiro de Governo.