Debate: PS acusa Von der Leyen de "branquear" extremistas e Bugalho demarca-se
As negociações entre o PPE (família política da AD) e a extrema-direita do grupo dos Conservadores e Reformistas serviu de mote para Marta Temido (PS) atacar Sebastião Bugalho (AD), esta terça-feira, no debate entre os oito candidatos. Ambos defendem as novas regras orçamentais, que não geram consenso.
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Lá fora, Ursula von der Leyen, candidata do PPE a presidente da Comissão Europeia, não afasta negociações com a extrema-direita. Por cá, no debate desta terça-feira na RTP, a candidata do PS ao Parlamento Europeu acusou-a de “branquear” as ideias extremistas com apoio da AD.
Na resposta, Sebastião Bugalho assegurou que as linhas vermelhas traçadas a nível nacional “serão mantidas” no Parlamento Europeu, indiciando que não votará a favor do acordo com os Reformistas: “A única forma de resolver os extremismos é a doutora Marta Temido apoiar Ursula Von de Leyen”.
João Cotrim de Figueiredo (IL) também se demarcou do acordo: “Se o PPE se aliar com o ECR não contará com o apoio dos liberais europeus”.
Pacto orçamental sem consenso
O debate com os oito cabeças de lista às eleições europeias começou com uma análise às novas regras orçamentais da União Europeia. A AD e o PS defendem que as novas regras dão mais flexibilidade aos países, os restantes partidos acham que vai tirar autonomia aos Estados-membros.
“Face ao que eram os cenários alternativos, esta construção representa um avanço pelo qual os socialistas europeus se bateram”, disse Marta Temido.
A socialista justifica que há “maior flexibilidade, na medida em que a trajetória de ajustamento entre os países é passível de ser discutida entre o país e a Comissão” Europeia. Ou seja, explicou, antes havia “uma marcha forçada” rumo à redução da dívida para 60% do PIB e para 3% de défice anual, mas agora “introduz-se o elemento da negociação”.
Antes de terminar, ainda deixou uma provocação a Sebastião Bugalho porque a família política do PSD e do CDS-PP, o PPE, foi favorável aos sucessivos aumentos das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu. “É verdade que o PPE tomou as posições que a doutora Marta Temido referiu, mas os eurodeputados portugueses estiveram sempre ao lado dos portugueses e votaram contra”, clarificou Sebastião Bugalho.
Para o candidato da coligação que junta o PSD e CDS-PP, o que este modelo permite “é que, cumprindo com as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, temos mais autonomia a definir investimentos e prazos”. Assim, deixa-se “de tratar todos os Estados por igual”.
Do lado da CDU, João Oliveira sustentou que “os mecanismos de controlo e ingerência direta nos países, nomeadamente através do semestre europeu, mantêm-se”. Tânger Corrêa, do Chega, também é contra as regras que vão “fomentar uma Europa a duas velocidades”. Catarina Martins, do BE, lembrou que “as medidas são tão más e de tal forma contra a capacidade de investimento que houve 25 deputados socialistas que furaram o voto e votaram contra”.
João Cotrim de Figueiredo, da IL, concluiu que as novas regras “são muito mais flexíveis” e Pedro Fidalgo Marques, do PAN, argumenta que “este investimento vai gerar mais economia”. Já Francisco Paupério, do Livre, avisa que “para cumprirem estas regras, os países não vão cumprir as metas climáticas”.
PS ao ataque, AD rebate
Globalmente pacífico, o debate aquecia sempre que Marta Temido falava, notando-se alguma propensão para colar Bugalho a ideias pouco populares.
Quando o tema não o fazia prever - falava-se da Ucrânia-, PS e AD envolveram-se numa troca de argumentos. “Disse que um presidente de um país em guerra que vem a outro país pedir ajuda é um dia de festa? Isso é de uma imaturidade brutal”, acusou Temido. “Qualquer democrata português está ao lado de Zelensky”, respondeu Bugalho. “Disse que era um dia de festa”, insistiu a socialista. “Recebemos a visita de um país invadido e que está a lutar pela democracia, claro que celebro”, reforçou o candidato da AD. “Celebra o quê, os mortos ucranianos?”, concluiu a socialista, antes da interrupção.
Neste capítulo, todos apoiam o esforço de guerra ucraniano, exceto João Oliveira (CDU): “Dar mais armas à Ucrânia não é apoiar, é fazermos deles carne para canhão”.
Sobre o pacto da UE para as migrações e asilo, os candidatos ficaram divididos, com a Esquerda a acusar a Direita de se aproveitar da indignidade. Catarina Martins (BE) acusou o PS, a AD e a IL de votarem a favor quando dizem ser contra: “É a definição de um voto lamentável. Lamenta-se, mas vota-se”.
O segundo dia de campanha fica marcado pelo debate com oito cabeças de lista às eleições europeias. Entre as 17 candidaturas de partidos ou coligações, foram escolhidos para este debate os oito com representação na Assembleia da República.
Participaram Sebastião Bugalho (AD), Marta Temido (PS), António Tânger Corrêa (Chega), João Cotrim de Figueiredo (IL), Catarina Martins (BE), Francisco Paupério (Livre), João Oliveira (CDU) e Pedro Fidalgo Marques (PAN), com moderação de Carlos Daniel.
As eleições para o Parlamento Europeu realizam-se de 6 a 9 de junho nos 27 Estados-membros da União Europeia, sendo que em Portugal a data do sufrágio é no domingo, 9 de junho.