Miguel Pavão e Artur Lima concorrem à sucessão de Orlando Monteiro da Silva, que ocupa cargo desde 2001.
Corpo do artigo
Mais de 11 mil médicos dentistas elegem amanhã, por correspondência ou presencialmente, o bastonário para os próximos quatro anos, num momento de grande dificuldade para a profissão. Pela primeira vez desde 2009, há dois candidatos. Miguel Pavão, fundador da organização Mundo a Sorrir, e Artur Lima, vice-presidente do CDS, querem suceder a Orlando Monteiro da Silva.
O atual bastonário, que em 2001 sucedeu a Manuel Fontes de Carvalho - o primeiro da história da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), fundada em 1998 -, não concorre àquele que, à luz da lei, seria o último mandato, resistindo ao movimento de apoio que até chegou a criar o site Orlandovaiemfrente.com.
Mas o primeiro a ir em frente foi Miguel Pavão, de 40 anos, do Porto, condecorado em 2015 com a Ordem de Mérito pelo trabalho desenvolvido ao serviço da primeira ONG dedicada à saúde oral. Diz que representa a nova geração de dentistas e assume-se como o rosto da mudança de "rumo e de posicionamento" da OMD, que "precisa de estar ao serviço e mais próxima da classe, de atender aos seus problemas, de lhe dar voz e acautelar o futuro da profissão, fortemente ameaçada".
Numa corrida que só não é a três porque uma candidatura foi rejeitada, entrou depois Artur Lima, 57 anos. O líder do CDS/Açores e representante da OMD no arquipélago encabeça uma lista de que fazem parte membros dos atuais órgãos, mas com "uma renovação de mais de 50%". Candidata-se porque vem aí "um período muito difícil para classe", que exige "uma Ordem coesa", liderada por quem conhece os dossiês, tem "experiência adequada" e "maturidade suficiente para enfrentar os desafios".
pandemia e formação
O combate à precariedade laboral e à crise que o setor atravessa provocada pela pandemia, que suspendeu quase toda a atividade durante um mês e meio, é uma prioridade de ambos os candidatos, que também convergem na necessidade de reformar o programa-cheque dentista.
Artur Lima propõe a criação de uma central de compras de equipamentos de proteção individual, de formar a melhorar o acesso e a redução de custos, considerando também necessário aumentar a influência da OMD junto do Governo e da Direção-Geral da Saúde. Já Miguel Pavão defende uma avaliação rigorosa dos cursos de Medicina Dentária, preocupado com o número excessivo de profissionais que prejudica a qualidade e as políticas de saúde oral".
Duelo aceso gera queixas e pode dar sanções
A campanha esteve ao rubro na Internet e ao Conselho Deontológico e de Disciplina (CDD) da OMD chegaram "participações tendo por objeto afirmações e comentários entre colegas nas redes sociais". "Sem prejuízo das ações disciplinares" que possam ser desencadeadas, o CDD lembra, em comunicado, que o respeito pelos "deveres éticos, deontológicos e estatutários" deve ocorrer mesmo em contexto eleitoral.
Três perguntas aos dois candidatos
1. Quais os principais desafios que se colocam à classe?
2. Qual será a sua primeira prioridade?
3. Como interpreta o aparecimento de várias associações de médicos dentistas nos últimos meses?
Miguel Pavão
Candidato pela Lista A
1. A nossa classe profissional tem de ser valorizada pela sua importância para a saúde pública. Para isso, temos de mudar o rumo dos últimos 16 anos, em que temos assistido à desvalorização de atos médicos, ao aumento da precariedade e do número de profissionais, priorizando a quantidade em detrimento da qualidade. As restrições que estamos a implementar nas clínicas, por causa da covid-19, vieram expor as fragilidades da nossa classe. Esta crise tornou evidente a falta de acompanhamento que temos tido nos últimos anos.
2. Unir todos os colegas em defesa de interesses comuns da Medicina Dentária, tornando a OMD mais próxima, transparente, presente e ativa. Esta união passa por atos concretos de aproximação, criando mecanismos para um acesso rápido à OMD e que responsabilizem os eleitos. Há temas prioritários, como a reforma do programa cheque-dentista, o acompanhamento e normas de avaliação de todos os cursos de Medicina Dentária, a alocação de verbas do Orçamento do Estado para investimento em saúde oral, e a criação de linhas de apoio à saúde oral no setor social.
3. Todas as associações que surjam para defender a classe e atingir objetivos comuns são bem-vindas. Algumas surgiram para dar resposta a problemas concretos, como questões de apoio social, aquisição de equipamentos de proteção para evitar a especulação trazida pela pandemia ou apenas para encontrar sinergias comuns. É um fenómeno natural, importante, que deve ser encorajado.
Artur Lima
Candidato pela Lista B
1. Os desafios que se colocam à nossa classe profissional são sobretudo combater a precariedade laboral e a crise económica decorrente da pandemia de covid-19. A nossa classe profissional foi seguramente uma das mais abaladas neste período. Cabe à OMD, tanto o quanto lhe é possível, criar condições e pressionar o Estado para uma retoma da atividade com condições de segurança, minimizar os danos económicos e tranquilizar a população, garantindo que é seguro e importante continuar a ir ao médico dentista. O nosso programa contempla, por isso, uma série de medidas a pensar na covid-19, como, por exemplo, o aumento do valor do cheque-dentista, a criação de uma central de compras de equipamento de proteção individual e aumentar a influência da OMD junto das decisões do Governo e da Direção-Geral da Saúde, entre outras, mas também para combater a precariedade laboral.
2. As minhas prioridades são implementar as medidas para o combate à precariedade laboral e às consequências da covid-19, mas também melhorar a comunicação interna e externa da OMD, valorizando o médico dentista e a sua importância na comunidade, e incutir o espírito de que a Ordem é de todos os médicos dentistas e representa todos.
3. Tenho, de facto, conhecimento do aparecimento de algumas associações sobretudo nos últimos meses e, caso seja eleito bastonário, estarei disponível para trabalhar com todas em prol da medicina dentária e da saúde oral dos portugueses.