Estudos demonstram proteção significativa contra nova infeção. Contudo, por precaução, Carmo Gomes defende reforço nos "recuperados mais vulneráveis".
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Numa altura em que decorre a campanha de reforço vacinal, com administração de terceira dose na população mais envelhecida, há milhares de portugueses, muitos nas faixas etárias superiores, com apenas uma dose, por terem recuperado de infeção por SARS-CoV-2. Questionada pelo JN se admite tornar elegíveis os recuperados, nomeadamente os maiores de 65, para segunda dose, a Direção-Geral da Saúde (DGS) afirmou estar a "avaliar" o assunto. Por precaução - os estudos mostram uma proteção equivalente a quem tem esquema completo -, o epidemiologista Carmo Gomes defende o reforço nesta população.
Tema já analisado pela Comissão Técnica de Vacinação e que a DGS tem agora em "avaliação". Recorde-se que, recentemente, nas exceções à segunda dose, além dos imunodeprimidos, que mesmo recuperados são elegíveis para esquema vacinal completo, as autoridades de saúde incluíram viagens para países onde são exigidas duas doses para dispensa de quarentena. Como o Reino Unido ou o Canadá que, independentemente de infeção, requerem esquema completo.
Imunidade celular
"Não existe evidência de que as pessoas que recuperaram de infeção e depois receberam uma dose necessitem de um reforço, independentemente da idade", explica ao JN Carmo Gomes. Falando a título pessoal, adianta que "tudo sugere que estão bem protegidas e o decaimento de anticorpos é mais lento do que em quem nunca teve contacto com o vírus".
A explicação está na imunidade celular. Na medida em que o contacto com o vírus induz memória imunológica mais ampla do que a vacina. Porque um infetado esteve em "contacto com todas as proteínas do vírus, enquanto os vacinados só estiveram em contacto com uma proteína", desmonta o professor universitário. Perante novas variantes, os recuperados são, assim, mais capazes de as reconhecerem.
Contudo, o epidemiologista defende que, "por precaução, "deve-se considerar proteger os recuperados mais vulneráveis". Nomeadamente, precisa, "os grupos prioritários, como os muito idosos - os mais de 80 anos e, depois, os mais de 65 anos - e os residentes em lares".
Também o imunologista do IMM Luís Graça vinca que "os estudos mostram que um recuperado que recebe uma dose tem uma proteção muito significativa contra uma nova infeção, sem diferenças entre idades". Contudo, sublinha, "é algo em permanente avaliação, à medida que a informação avança".