Diana Cunha tem 25 anos e foi, na sexta-feira, a mais jovem convidada de honra de Marcelo Rebelo de Sousa nas comemorações do 10 de junho em Paris.
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A jovem lusodescendente foi escolhida para sentar-se na primeira fila da festa portuguesa, ao lado dos porteiros condecorados e dos familiares das vítimas dos ataques terroristas de 13 de novembro na capital francesa. O seu feito é simples: mobilizou dezenas de pessoas da comunidade portuguesa em Paris a ajudar os migrantes no campo de refugiados em Calais.
O ensejo brotou da experiência em África. Apesar de tão jovem, Diana já cumpriu uma missão humanitária num campo de refugiados em Moçambique. Essa vivência marcou-a e, regressada a França e vendo as condições de vida dos migrantes que desaguam em Calais, sentiu a inquietude que só se cala com a ação.
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"Entrei em contacto com o campo de refugiados em Calais para saber o que fazia falta e organizámos no nosso Santuário de Nossa Senhora de Fátima [em Paris] uma colheita com roupa para homens, cobertores e material de construção. Lá, as construções são todas tendas de plástico e, com o inverno, fica tudo destruído", contou Diana Cunha, horrorizada pela forma como são acolhidos os migrantes na Europa. "A comunidade portuguesa participou imenso e foi um camião inteiro, emprestado por um emigrante português, para Calais", lembrou a jovem, encantada pela alegria com que os bens foram recebidos em janeiro passado.
"Eles vivem em condições muito difíceis. É tudo cheio de lama. Não têm condições para se lavar, a água não é potável", lamentou. Diana Cunha olha para as fotos dos portugueses que chegavam a Paris "a salto" e se instalavam no bairro de lata de Champigny e encontra semelhanças entre os novos migrantes e os emigrantes da década de 60 e de 70. Também chegavam sem nada ou com quase nada, fugidos da fome e da ameaça da partida para a guerra colonial.
"Muitas pessoas que estão aqui hoje, nesta sala da Mairie, passaram por isso. Conhecemos pessoas que viveram no biddonville [bairro de lata] e que passaram por muito sofrimento. Faz lembrar a nossa história".