A aliança entre Portugal e França na batalha contra as sanções europeias por défice excessivo foi selada, esta sexta-feira, por François Hollande nas comemorações do 10 de junho em Paris.
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Pela primeira vez, o Dia de Portugal foi celebrado fora de portas com 680 portugueses e lusodescendentes.
O presidente da República francesa garantiu que "França é um amigo de Portugal no Conselho Europeu" e que "deve haver flexibilidade" para permitir o crescimento económico dos dois países. O primeiro-ministro, António Costa, gostou do que ouviu e acredita que os franceses não serão o único aliado luso na Europa. "Felizmente temos muitos amigos, porque Portugal tem sido sempre um parceiro muito leal e construtivo da União Europeia ao longo destes 30 anos", sublinhou o primeiro-ministro, após a cerimónia de condecoração de quatro porteiros portugueses que ajudaram a salvar mais de 200 pessoas nos ataques terroristas na noite de 13 de novembro passado.
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A decoração do palco na Mairie de Paris parecia adivinhar a aliança que se formava. Por trás de François Hollande e de António Costa, vigiavam as bandeiras dos dois países ladeando a da União Europeia. O chefe de Estado francês, que aceitou o convite de Marcelo Rebelo de Sousa e visitará Portugal em julho, não tem dúvidas de que o compromisso com o crescimento económico é mais importante do que cumprir à risca as regras do défice.
"O crescimento económico de Portugal é do interesse da França. As escolhas que Portugal fez são escolhas que estão de acordo com as regras europeias e convergentes com as escolhas que fizemos em França. Devemos respeitar as regras, mas deve haver flexibilidade, para que Portugal, como a França, possam criar mais emprego e introduzir medidas de progresso social, ao mesmo tempo que saneiam as contas públicas", argumentou Hollande, que, antes de subir à tribuna na festa dos portugueses, recebeu o presidente da República e António Costa no Palácio do Eliseu.
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Após o encontro de cerca de 30 minutos em que se discutiram as relações bilaterais entre os dois países, o terrorismo, a segurança e a candidatura de António Guterres a secretário-geral da ONU, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que o país conta com o "apoio da França para ajudar Portugal nas questões económicas", até porque partilham da "visão sobre o papel da Europa".
Essa aliança entre os dois países fortalece-se num "período de interrogações e inquietude", reconheceu Hollande numa referência à possível saída do Reino Unido da União Europeia, partilhada também por António Costa. "Quanto há países que discutem se querem permanecer ou não na Europa, o que a França e Portugal dizem é que é preciso aprofundar a Europa".
Marcelo e Costa tiraram "selfies" com os emigrantes
Numa cerimónia bilingue na Mairie de Paris, só Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de deixar algumas palavras em português perante a sua comunidade. Falou como avô e não apenas como presidente da República. O avô Marcelo sabe bem o que é a "emoção de quem tem a melhor parte da família a viver fora do território português" e a melhor parte são os "netos". Também a comunidade portuguesa em Paris tem dado provas de coragem e de garra. "Vocês são os melhores de todos nós", sentenciou o presidente, recordando a braveza dos lusitanos que partiram de Portugal para França na fuga à pobreza e às dificuldades.
"Começaram a vida sozinhos e, pouco a pouco, foram-na refazendo com trabalhos duros. A França não esquece, mas Portugal ainda esquece menos a coragem os vossos avós, dos vossos pais e dos vossos filhos", frisou o presidente da República, que partilhou com Hollande a honra de entregar a Ordem da Liberdade aos quatro porteiros emocionados: Natália Teixeira Syed, Margarida Sousa e José e Manuela Gonçalves. O presidente da República não condecorou, mas quis colocar na primeira fila do enorme salão nobre da Mairie de Paris alguns portugueses e lusodescendentes que que são testemunho dessa coragem que pulsa nos emigrantes.
E ali estiveram as quatro enfermeiras portuguesas que assistiram as vítimas dos atentados terroristas; Patrícia Correia, mãe de Priscila que foi morta no Bataclan, e Sophie e Michael Dias, filhos de Manuel Colaço Dias assassinado nos ataques junto ao Stade de France. Também há histórias de esperança, como a de Diana Cunha, que juntou a comunidade portuguesa no apoio aos migrantes acampados no campo de Calais.
A cerimónia encerrou com os hinos de Portugal e de França, entoados pelos 680 convidados com igual comoção, mas nem o presidente da República nem o primeiro-ministro arredaram pé. Desceram da tribuna para a multidão e partilharam abraços, beijos, cumprimentos e muitas "selfies".