D. Nuno Almeida, que será empossado no domingo como novo bispo da Diocese de Bragança-Miranda, disse que os abusos sexuais na Igreja Católica e na sociedade são uma questão “dolorosa, mesmo desagradável e difícil”.
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Por isso, admitiu que nas dioceses “se precisa de ajuda de pessoas devidamente preparadas em psicologia, direito ou outras especialidades para se encontrar um caminho, de facto, eficaz”, mas ressalvou que a Igreja “já oferece várias soluções” para quem quiser denunciar.
O bispo, que foi um dos primeiros em Portugal a defender medidas cautelares contra os abusadores, considera que se entrou numa nova etapa com o grupo de trabalho que “vai prestando contas”, vincando que é preciso fazer o apelo a todos “para uma cultura de vigilância”, de modo a “superar este drama da Igreja e da sociedade”.
Sem querer aprofundar o assunto “por se estar a viver um momento festivo”, o prelado sublinhou que “não pode haver vítimas de abuso, tal como não pode haver abusadores, nem silenciar quando, infelizmente e dolorosamente, sabemos que podem acontecer”, afirmou, durante uma conferência de impressa, que teve lugar este sábado de manhã, na cidade transmontana, onde vai passar a viver.
Respondendo às questões dos jornalistas ainda sobre os abusos, D. Nuno Almeida explicou que “agora temos as coisas claras”, dando conta “que a Igreja tem feito um bom caminho, até em termos de normas, procedimentos e de reflexão ” e que “é hora de agir mesmo quando isso é difícil, porque é doloroso, mas não pode ser adiado o que se deve fazer e, muito muito menos, hesitar no que é necessário fazer, seguindo a lei civil e a geral e canónica, nomeadamente o que determinou o Papa Francisco”.
Há 18 meses que a Diocese de Bragança-Miranda estava sem bispo, desde que o anterior, D. José Cordeiro, foi nomeado arcebispo de Braga, do qual recebeu “uma herança desafiadora”.
Num tempo de crise económica e social, D. Nuno compreende que nem sempre é fácil encontrar uma solução para os problemas pessoais e familiares, mas a sua atenção estará com os que sofrem. “É difícil encontrar um sentido para a vida de cada dia, e um sentido para os valores, uma espécie de GPS e de bússola para a vida das pessoas. Ter um projeto de vida de vida feliz é o mais importante e a Igreja tem a missão de propor o Evangelho como luz que nos oferece um projeto de vida com esperança e fecundo”, afirmou.
D. Nuno Almeida, que era bispo auxiliar de Braga, lamenta que muitos vivam “sobre um guarda-chuva, sem abertura espiritual, não necessariamente religiosa, mas de sonho e de olhar mais longe”.
Para o seu mandato como prelado na diocese transmontana elege aquilo que designa de “quatro proximidades de um bispo”, nomeadamente “a proximidade com Deus, a proximidade com os irmãos cristãos, a proximidade com os sacerdotes e a proximidade com o povo de Deus”, mas uma das suas prioridades serão “os que mais sofrem e vivem momentos difíceis”, bem como os jovens, numa altura em que se prepara a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, com uma referência especial para os escuteiros.
Já com os olhos nas Jornadas Mundiais da Juventude, D. Nuno Almeida espera que tal como nas anteriores iniciativas do género, a de Lisboa “também seja um momento de provocação vocacional” e que abra o coração dos mais novos para o sacerdócio.
A falta de padres é notória na diocese de Bragança-Miranda, onde existem 321 paróquias, com 600 comunidades e apenas 72 sacerdotes, seis deles já jubilados, apenas um com menos de 30 anos, 13 entre os 30 e os 39 anos. A maioria, isto é 14, tem entre 50 e 59 anos, três têm entre 90 e 99 anos, e um já completou 100 anos.