O encerramento das escolas de condução veio trazer grandes dificuldades a muitos negócios a elas ligadas.
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Rúben Gonçalves é o exemplo perfeito do jovem empreendedor que criou a sua empresa em 2019, mas que só em 2020 teve condições para começar a operar. Não tem, por isso, histórico de faturação. "O único apoio que tenho é o que foi dado aos sócios-gerentes, a título individual, pela Segurança Social, mas, em termos de empresas, não tive nada e continuo a ter de pagar água e luz, rendas e impostos. É muito difícil".
Rúben criou a Drive In em abril de 2019, com a intenção de abrir uma escola de condução que só começou a funcionar em fevereiro de 2020, no Porto, junto à Faculdade de Farmácia e ao Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Nem dois meses trabalhou e foi apanhado pelo primeiro confinamento. Recorreu a uma das linhas de crédito de apoio à tesouraria das empresas, então lançadas, com a consciência que se estava a endividar, mas sem alternativa.
Com o avolumar das despesas, acabou por fechar no Porto e transferir-se para Aveiro, onde vive. "O rombo era muito grande e em Aveiro sempre temos rendas mais acessíveis", diz. Acabou a montar duas escolas, uma em Esgueira e outra em Águeda. As duas escolas "arrancaram bem" e foi esse pé de meia que criou, até ser decretado novo confinamento, que o está a aguentar agora, com as escolas fechadas "e sem saber bem, ainda", quando poderão reabrir. "Não tive direito ao Apoiar, nem ao Apoiar Rendas, porque não havia histórico de faturação. E o problema é que só sai dinheiro, não entra nenhum, o pé de meia já começa a ficar limitado. Ainda nem sabemos se abrimos a 5 ou a 19", diz, lamentando que não haja apoios diretos aos pequenos negócios, independentemente da data em que foram criados.
Discriminação
Tal como Rúben, também o seu pai, Joaquim Gonçalves, se debate com a falta de apoios. A Código Supremo dedica-se à distribuição de manuais do ensino da condução. Mas, com as escolas de condução fechadas, a empresa deixou de ter a quem vender. "Estamos há três meses em casa, sem poder vender. Mas, como foi entendido que os livros se podiam vender de outra forma (online), não fomos contemplados com apoios, embora tenhamos de pagar Segurança Social todos os meses e IRC e tudo isso", diz Joaquim Gonçalves, que explica: "Tive prejuízos de mais de 35% no 3.º trimestre de 2020, mas como recuperei no último, os apoios já nos foram negados".
O empresário não poupa críticas à decisão de fechar as escolas de condução. "Não aconteceu em mais nenhum país, que sentido é que isso tem? Num carro anda o aluno e o instrutor, num táxi andam três ou quatro pessoas, a covid não ataca nos táxis?".