Dos 20 grupos no terreno, só sete receberam veículo. Autonomia é afetada.
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550 dias ou, se preferirmos, um ano e meio. Foi o tempo exato que a Equipa Comunitária de Saúde Mental da Infância e Adolescência (ECSM-IA) do Tâmega e Sousa teve de esperar para receber a tão aguardada viatura própria. "É sinónimo de autonomia", descreve Sara Camões, enfermeira desta equipa.
Mas esta espera não é caso único. Até ao momento, das 20 equipas comunitárias de saúde mental no terreno - dez lançadas em 2021 e outras dez lançadas em julho de 2022 -, apenas sete receberam uma viatura, segundo dados enviados pelo Ministério da Saúde ao JN. Uma outra irá receber até ao final deste mês. Ou seja, há grupos a atuar há um ano e oito meses que ainda não têm carro próprio.
No caso da equipa do Tâmega e Sousa, as saídas diárias eram realizadas com uma viatura do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, partilhada com outros serviços. Agora, têm recursos próprios e adaptados às necessidades. "Esta carrinha tem bastante espaço, o que facilita o transporte do material para as sessões que fazemos".
À sexta-feira é dia de visitar as escolas daquela sub-região. No dia em que o JN acompanhou a visita, as cinco profissionais que constituem a equipa (uma assistente social, uma psicóloga clínica, uma enfermeira especializada, uma terapeuta ocupacional e uma pedopsiquiatra) estavam em Souselo, Cinfães, mais especificamente na escola básica. Era a segunda vez que lá iam.
Jovens estão conscientes
A propósito do Parlamento Europeu Jovem, ao qual este estabelecimento de ensino concorre, que se focará na temática da saúde mental, a atividade foi diferente: um debate. Amigos, atividade física, relações amorosas, redes sociais e alimentação são os tópicos em discussão para os alunos do nono ano desta escola.
São divididos em grupos e a participação é grande. "As relações podem tornar-se abusivas". "Os amigos ajudam-nos a ultrapassar momentos difíceis". "A atividade física ajuda a ter saúde mental". "Saúde mental é estar bem connosco e com as nossas atitudes". A lição parece bem estudada pelos jovens. Entre eles, está Tiago Monteiro, de 14 anos, que partilha que os adolescentes estão cada vez mais conscientes. "É bom termos atividades como esta, que se preocupam em ouvir o que temos a dizer sobre saúde mental".
Patrícia Vieira, psicóloga clínica da ECSM-IA do Tâmega e Sousa, corrobora. "Os adolescentes estão mais conscientes do que é a saúde mental e do que podemos fazer para melhorar a nossa e a dos outros, mas isso não significa que apliquem o conhecimento". O bullying é tema constante, ainda que a gravidade do mesmo tenda a diminuir, diz.
Quanto a automutilações e comportamentos suicidários, a profissional de psicologia garante que não há tendências, visto serem "modas". "Quando aparece um caso, sabemos que vão surgir mais três ou quatro em volta", afirma Patrícia Vieira. Ao JN, o Ministério da Saúde garantiu que até ao final do primeiro trimestre de 2023 irão avançar para o terreno as cinco equipas comunitárias de saúde mental previstas para este ano.
A semana de trabalho
Visitas a escolas
A sexta-feira é o dia dedicado à visita de escolas pela ECSM-IA do Tâmega e Sousa, onde se dão palestras e workshops a pedido das instituições de ensino da sua área de ação. Os alunos do Ensino Básico são o foco de trabalho.
Acompanhamento de casos
Quando começou o trabalho, a equipa comunitária ficou responsável pelo acompanhamento de casos que já estavam em curso no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS). Há também ocasião para visitas a lares.
Deslocações aos centros de saúde
A restante semana está guardada para a visita a centros de saúde da região, onde a equipa dá consultas a crianças e adolescentes. As famílias são também acompanhadas para que todo o contexto familiar seja tido em conta.
Planeamento
A terça-feira é o dia de reunião. Logo pela manhã, a ECSM-IA junta-se a Carla Maia, diretora da pedopsiquiatria do CHTS, e a outros profissionais para discutir casos, planear próximas saídas e debater estratégias de trabalho.