Escolas, blocos operatórios e outros serviços fechados devido a "política salazarenta" do Governo
Vários sindicatos da Função Pública e dos professores convocaram uma greve para esta sexta-feira que se está a traduzir no fecho de cerca de 20 escolas, só no concelho do Porto, no cancelamento de consultas e de cirurgias e fecho que vários serviços públicos. A adesão ronda 90 por cento, segundo dirigentes sindicais.
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Rui Teixeira é do Porto e há duas semanas foi operado ao coração. Vinha, esta sexta-feira, a um consulta no Hospital de São João, no Porto, de acompanhamento, mas teve de voltar para casa devido à greve da função pública. "Transtornou-me muito a vida. A vida está difícil para todos. Gastei combustível, paguei o parque de estacionamento, além do impacto na minha saúde". Sobre os motivos da greve dos profissionais de saúde, o utente mostra-se empático, mas salienta, "é importante haver outro tipo de coordenação e organização a fim de proteger os pacientes".
Por seu turno, Maria Ribeiro veio, desde Lousada, acompanhar o filho a um exame médico e deu com o nariz na porta. "Já tinha telefonado ontem a perguntar e disseram-me que se não comparecesse hoje tinha falta", conta, em jeito de lamento, frisando que nem reagendar o exame conseguiu, "ainda vão entrar em contacto". As queixas desta mãe são um chorrilho: "Venho de longe na camioneta das 7.15 horas, o meu filho falta às aulas, eu ao trabalho, não temos horários. Agora só tenho transporte de regresso às 14 horas. É muito longe. Podiam ao menos telefonar". Sobre se é solidária com os motivos da greve, Maria responde com um redondo "não".
Orlando Gonçalves, do Sindicato da Função Pública do Norte, em declarações ao JN, no átrio das consultas externas do São João, justifica a paragem dos blocos operatórios e colheitas de sangue, do funcionamento a meio gás dos hospitais do país (com adesão de 90 por cento), de lojas do cidadão e encerramento de cerca de 20 escolas só no concelho do Porto com a "política salazarenta do Governo". "Os trabalhadores estão cada vez a empobrecer mais, a passar necessidades. O Estado com excedente orçamental, mas não distribui esse dinheiro pelos portugueses que passam fome, sem dinheiro sequer para pagar uma renda".
Por isso, o delegado sindical exige "um aumento salarial que cubra a inflação para que as pessoas não percam poder de compra". "Trabalhar e empobrecer é lamentável", atira. Orlando Gonçalves refere que "há uma percentagem enorme na função pública que ganha o salário mínimo" e, "com o aumento do custo de vida, dos bens alimentares e das rendas, é impossível sobreviver com este tipo de salário".
Professores juntam-se à greve
Nem oito da manhã apontava o relógio e cerca de duas dezenas de professores concentravam-se frente à escola secundária Carolina Michaelis, no Porto, com as reivindicações já sublinhadas no passado ano letivo. Sónia Rocha, da Fenprof, faz reflexo das queixas da generalidade dos funcionários públicos: "Horários de trabalho desregulados, situação de precariedade persistente, os salários que não combatem o aumento do custo de vida".
No mesmo cenário, Lurdes Ribeiro, do Sindicato da Funcão Pública confirmou, in loco, ao JN o fecho de cerca e 20 escolas no Porto e Gaia. Uma greve, segundo a dirigente sindical, serve para "para dizer ao Governo e à Assembleia da República que temos a necessidade de um aumento justo do salário e não do que se propõe em Orçamento de Estado". "O custo de vida aumentou, duplicou e até triplicou, mais a prestação da habitação a somar aos bens de consumo essenciais, o combustível, a eletricidade. Um conjunto infindável de coisas que aumentaram e o Governo não quer acompanhar este aumento dos preços com um aumento justo de salário e uma dignificação das carreiras", remata.