As escolas sinalizam poucos casos de violência e, muitas vezes, apenas no fim do ano letivo, o que impede uma intervenção precoce junto das crianças e dos jovens com este tipo de comportamentos.
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A revelação foi feita, esta terça-feira, por Madalena Sofia Oliveira, oradora do webinário "A violência percecionada a partir da escola - Leituras, conjeturas e propostas de atuação", promovido pela FNE - Federação Nacional de Educação.
A investigadora acusa, assim, as escolas de participarem casos de violência apenas "em último recurso", quando o Estatuto do Aluno determina que o diretor deve diligenciar para pôr termo a estas situações, em articulação com os pais.
"É fundamental o papel da escola na intervenção precoce. Muitas vezes, os problemas surgem aos 6, 7 ou 8 anos", alerta a docente universitária, porque as crianças tendem a imitar o comportamento dos pais quando lhes dão uma palmada para resolver um conflito.
Madalena Sofia Oliveira destaca a importância de os professores intervirem para evitar que os alunos repliquem e perpetuem esses comportamentos. "Devem explicar à criança que há outras formas para resolver o conflito, o que fará com que reflita sobre o seu comportamento", defende. E considera fundamental os funcionários estarem atentos a casos de agressão, durante os intervalos.
Agressão recorrente
"A agressão ainda é uma prática recorrente. Os pais usam o castigo corporal como uma prática corretiva e não há nada mais erróneo", sublinha a investigadora. "Do ponto de vista emocional, poderá resultar num trauma, em ansiedade ou depressão", assegura.
Além disso, a docente do ensino superior sublinha que o castigo corporal pode ter outras consequências adversas para as crianças. "Pode resultar em vitimização ou agressão em situações futuras, com companheiras e com os próprios filhos."
"A violência foi declarada como um problema de saúde pública. É a problemática que mais mata entre os 16 e os 44 anos", garante a investigadora. "Se há uma suspeita, denunciem-na, mesmo que anonimamente. É importante que o façam pela criança", justifica.
A académica aconselhou também os docentes a reportarem às comissões de proteção de crianças e jovens em risco situações de abuso sexual relatados pelos alunos, limitando-se a ouvir. "É fundamental que o professor não queira saber nada, porque 50% dos casos ocorrem em contexto familiar, e a única prova que existe é testemunhal, pelo que pode estar a contaminar as provas."