"Este ambiente de corrupção é pior para as empresas do que a mudança de Governo”
O secretário-geral da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), Jorge Líbano Monteiro, considera que a instabilidade governativa que o país atravessa é prejudicial para a vida das empresas, mas refere que pior ainda para a atividade empresarial é “o ambiente de corrupção que está instaurado”.
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Jorge Líbano Monteiro afirma que muitos empresários “deixaram de confiar no Estado”, embora ainda subsista a subsídio-dependência e “uma ligação excessiva” entre ambos. Considerações feitas em Viana do Castelo, onde a ACEGE se prepara para criar o seu 14.º núcleo regional em território nacional.
Questionado sobre o impacto na vida das empresas portuguesas, deste período até às eleições em março de 2024, e eleição de um novo Governo, seguida de uma nova proposta de Orçamento do Estado, aquele responsável, respondeu: “Tudo o que é instabilidade é um problema. Se calhar, este ambiente de corrupção que está instaurado é pior para as empresas que a mudança de Governo. Uma empresa que tem que trabalhar sempre com este ambiente de corrupção, com esta incapacidade de fazer as coisas com critérios claros, transparentes e objetivos é pior para as empresas, se calhar, do que a mudança de Governo ou de linha política”, sublinhou.
Para o secretário-geral da ACEGE, que defende valores como a humanidade, ética, conciliação de família e trabalho, cumprimento de prazos de pagamento e combate à pobreza nas empresas, a instabilidade governativa “é o pior que pode acontecer” aos empresários.
“O que as empresas querem, acima de tudo, é estabilidade e essa estabilidade não está a ser conseguida. E, infelizmente, não está a ser conseguida por falta de ética, o que é mais frustrante ainda. Se fosse um problema mais grave, estrutural, neste mundo tão instável onde estamos, com guerras, com situações muito complicadas em tudo, no fundo vemos aqui a situação nacional ser alterada drasticamente por falta de ética”, comentou Jorge Líbano Monteiro, referindo que “aos poucos,as empresas habituaram-se a trabalhar mais longe do Governo”.
Governo "já não é aprceiro de confiança"
“Isso tem acontecido nos últimos anos. O Governo já não é um parceiro de confiança muitas vezes, portanto, as empresas podendo avançar sozinhas, muitas vezes preferem-no”, disse, considerando que, por outro lado, “há muitas empresas ainda muito encostadas ao Estado e aos seus subsídios, mas acho que esse não é o caminho das empresas que querem ser grandes. O caminho das que querem ser grandes, é fazer-se à vida e avançar sozinhas, porque é assim que elas podem crescer com mais sustentabilidade e com mais segurança”, defendeu, considerando que compete ao Estado, “assegurar as bases estruturais para que as empresas possam funcionar”.
“Tem obrigação de ter uma Justiça célere, para que as coisas possam ser resolvidas nos tribunais sem ter de estar anos à espera, e de ter Educação que garanta futuros quadros das empresas, de acordo com as necessidades de mão de obra. Chegámos a esta situação, em que a mão de obra tem de vir toda de fora, porque não há portugueses capacitados para fazer determinadas funções que as empresas precisam”, declarou.
A ACEGE foi criada em 1954 e tem atualmente 1200 empresários associados em Portugal.
A sua missão é tornar “as empresas e as suas equipas mais felizes”, transmitindo-lhes “uma missão de humanidade”.
Um dos cinco projetos que está a desenvolver atualmente é o Pagamento Pontual, que tem por objetivo “pedir aos empresários que paguem a horas”.
“Em Portugal, 84% das empresas não paga no prazo. Só 4% das grandes empresas é que paga no prazo que definem”, afirma Jorge Monteiro, referindo que a iniciativa envolve “2500 pequenas e grandes empresas”.
“Hoje em dia, felizmente, os pagamentos aos trabalhadores, a não ser em situações de crise, são feitos no dia certo. Já com os fornecedores não é a mesma coisa. As pessoas não têm respeito, não percebem o mal que fazem por pagarem atrasado. Por vezes, isso cria uma bola de neve e há pessoas que são despedidas e empresas que acabam por falir devido a esses pagamentos atrasados”, frisou.